terça-feira, 29 de abril de 2014

A JUSTIÇA VEM DE HOMENS POPULARES.-IX ERAR-


As idéias arranjadas, modernamente conhecidas pelos aparatos ideológicos do poder, contraditoriamente, fizeram surgir, quando menos se espera, da terra molhada e da poeira dourada do bravo sertão, pessoas  de carne e sangue quente, de personalidade própria, pois nunca “aceitam inteiro o alheio” , que formam grupos organizados de uma coletividade cuja existência origina-se na operacionalização de projetos comuns que levam no seu bojo o sonho de uma sociedade justa, apaixonada, produtiva e criativa a fim de responder as demandas essenciais e a plena satisfação das necessidades pessoais e coletivas da comunidade na constante procura do fértil Paraíso.

 
Impor justiça.

 
Os fatos e acontecimentos contados de modo cativante por Riobaldo, Tatarana, o Urutu Branco, como era taticamente apelidado pelos jagunços de seu grupo, comunica de maneira clarividente o estado anímico da existência humana no Sertão das Gerais. Topa-se de frente com a dura e complexa realidade sertaneja criada e imposta pelos interesses particulares e de grupos poderosos, liderados pela eterna e conservadora classe ruralista, aliada aos tradicionais grupos hegemônicos de fazendeiros -  coronéis -; políticos ; militares; comerciantes, igrejas e juristas. Forma-se, assim,  uma estrutura social organizada por grupos cada vez mais antagônicos obcecados pela secular aventura da invasão de terras, casas, arraiais e indivíduos mediante a lei do mais forte. “Sertão é o penal, criminal. Sertão é onde homem tem de ter a dura nuca e mão quadrada” ( Rosa, 1986:92).

... “Então Medeiro Vaz, ao fim de forte pensar, reconheceu o dever dele: largou tudo e saiu por esse rumo em roda, para impor a justiça”. (Rosa, 1986:33-34)

Os atores dos dramas e contos emergentes do enredo das ações de Grande Sertão, Veredas, manifestam com rasgos chocantes a tendência naturalmente ambiciosa da pessoa e o instinto de fazer justiça, sobretudo aos excluídos da convivência humana.
Joca Ramiro, a maior esperança do nosso sertão, também igualmente saía por justiça e alta política em favor de amigos e perseguidos ( Rosa,1986:34) pagando com a vida a decisão de dedicar-se sempre a fazer justiça e colocar no sertão um governo que fosse garantia do estabelecimento do valor do bem comum e da tolerância para todos.

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