segunda-feira, 31 de agosto de 2015

SIM, SOMOS BONS!

Estava dialogando com um amigo, manifestando minha sensual delícia de sorver bons vinhos e saborear as apetitosas iguarias caseiras. Pena que o gozo é freado pela vigilância sanitária, devido a idade.
Ai, o bom amigo me questiona: -
- Bobo, aceita, de modo realista, as limitações humanas naturais do corpo. Não como uma fraqueza ou limites, mas como um sinal para desfrutar outros gozos, também sensuais e deliciosos que ainda podem ser descobertos, inseridos, digeridos e aumentados até.
Lembra  a meditação do livro dos Atos dos Apóstolos donde Deus falou a Pedro que “ nenhum homem é impuro ou profano” ( At. 10, 28).
- Pensando bem, amigo, disse eu, você tem toda razão do mundo. O Criador não pode criar criaturas imperfeitas. Tudo o que vem de Deus é sagrado. “ A vida é a luz eterna dos homens” ( Jn, 1, 10) A tendência humana para fazer o bem é indicio da presença do Espírito no interior do templo do corpo humano. ( I Cor.12, 27-31).
Nossa crença está prenha de idéias estranhas a experiência de Deus na pessoa humana e a interpretação da palavra de Deus, da Tradição e dos sentimentos humanos nos contatos com seres da natureza que emergem do Criador.
É uma realidade experimentar nossa limitação e até fraquezas, mas também experimentamos, sobretudo, o gozo de sermos filhos de Deus. “ Vinde, benditos do meu Pai! Tomai posse do Reino, preparado desde a criação do mundo. O que fizestes a um dos menores desses meus irmãos, a mim o fizestes”  (Mat.25, 34-40)
O amigo insistia em que, há  muitos anos recebemos na família, escola e sociedade uma educação maniqueísta. Palavra emergente da filosofia persa e do pensador religioso Maniquei, dos primeiros séculos do cristianismo, que adotava os eternos conflitos cósmicos entre os deuses do bem e do mal, presentes nas mitologias. 
- Amigo! Confesso-te que me costa muito aceitar a crença de que somos radicalmente maus. Essa crença só serve para fomentar a culpa nas pessoas que, querendo fazer o bem que desejam, fazem o mal que não querem ( Rom. 7,21- 25).
Esta educação fomenta o medo que leva a uma sujeição que nada tem a ver com os ensinamentos e obras de Jesus de Nazaré. Muito tem a ver com o sistema econômico atual.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

AS MENTIRAS SOCIAIS.


Dias atrás me encontrei com o amigo Zé e falamos de assuntos pessoais e, aos poucos, de assuntos políticos, econômicos e religiosos do Brasil. O que mais me chamou a atenção é que, o pensamento desse homem, reflete o pensamento quotidiano da mídia nacional. A mentalidade do Zé é elaborada pelas noticias diárias e bombásticas dos telejornais. Aceita, sem restrição, as notícias da mídia e até, com ironia, as defende com mais euforia que os subservientes jornalistas habilitados pelas escolas do sistema social.
 Ele é católico de carteirinha. É dogmático, tradicional e conservador como a mais fundamentalista barata de sacristia. A amizade com o Zé vem de longa data. Depois desse novo encontro, percebi as diferenças de mentalidade entre ele e eu em relação a política, economia, religião e situação social contemporânea. Essa conversa fez-me lembrar a cruel frase de sábio Einstein: “ O mundo muda muito divagar, a mentalidade humana jamais”. Aludindo aquela frase bíblica, evolutiva, do livro Eclesiastés,( 1-,9)   
Nessa célebre frase, não consigo perceber o Einstein honesto. A teoria da relatividade que ele divulgou mudou, e, muito, o comportamento social e a mentalidade humana contemporânea. Hoje até o tradicional Vaticano e o judaísmo se aderiu à evolução do comportamento humano e as novas tecnologias inventadas diariamente pela inteligência humana que modificaram o panorama mundial de modo significante e menos solidário, apesar da descarga informativa instantânea. O Zé não tem idéias próprias. Parece que, de nossos longos encontros, só ficou a amizade. 
Esse fato e a atualização do pensamento bíblico do livro do Eclesiastes se relacionam ao sábio pensamento original do escritor e político João Guimarães Rosa quando, analisando a sociedade  afirma: “ Eu toda a minha vida pesei por mim. Sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo...Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa”( Rosa, Grande Sertão:Veredas. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1986. P.8)
 Em julho, estando no Rio de Janeiro, fui presenteado  com o último romance do genial escritor e cientista italiano Umberto Eco, intitulado Número Zero. Um grupo heterogêneo de habilitados jornalistas e escritores autodidatas tentam organizar e publicar o jornal Amanhã, número zero, que jamais sairá a luz. O romance mostra que todo jornal é negócio como outros. O que vale é vender. As notícias e informações  são ,dize o romance: ”O jornais mentem, os historiadores mentem, a televisão hoje mente”. ( Eco, Número zero, Record, Rio de Jameiro, 2015, p. 43). O romance quer demonstrar a tese de que tudo é mentira. Mais ainda, esses dias saíram, na Europa dois livros que narram que a história da famosa guerra do Waterloo ( 1815) não conta a verdadeira causa da derrota de Napoleão. A história que ensanguentou Europa é outra.
Apesar desses argumentos sérios, o senhor Zé acredita pelo menos defende as notícias e informações dos jornais, televisões, internet. Ou seja a opinião da população é condicionada pela imprensa ou mídia, totalmente dependente do movimento e interesses do deus mercado.
Neste sentido, podemos dizer que a mente humana não muda. A mente é escrava do mercado e seus melífluos produtos. A liberdade é pura ilusão e muita tragédia.


quinta-feira, 13 de agosto de 2015

RESISTÊNCIA POPULAR

A mão-de-obra vinda da população foi a primeira tecnologia empregada pelos intelectuais e empresários para a acumulação do capital que formou as cidades. A classe trabalhadora foi deslocada para as periferias.
Papa Francisco, em recente reunião com prefeitos de capitais, insistiu na tese de que o político tem que administrar as cidades humanas a partir das periferias das cidades e não a partir dos centros.
É nas periferias que se aglomeram as pessoas que formam os recursos humanos para a produção dos bens de consumo e de capital. Na visão dos acadêmicos, os habitantes das periferias formam o exército de mão-de-obra disponível para a produção e uso dos grupos corporativos dominantes das cidades e comunidades modernas.
Com o progresso da ciência e tecnologia, os donos dos bens de produção do mundo moderno se liberam, cada vez mais, da dependência dos trabalhadores desqualificados e até dos qualificados.
O trabalho, direito natural e universal das pessoas, está desaparecendo como meio de subsistência. O que hoje aumenta o capital dos grupos dominantes é a especulação monetária. O capital produz mais capital. O mercado moderno investe na formação de agentes criativos dedicados ao desenvolvimento constante da ciência e tecnologia, ficando cada vez mais livres das necessidades da mão-de-obra tradicional que, sem emprego, passa a viver nas periferias.
Os moradores das periferias são os que formam o que hoje se entende por povo, ou a população concentrada para poder ser empregada, sempre que os grupos dominantes necessitem, sobretudo para empregos descriminados.
A situação política, econômica, social e cultural atual está dirigida e fomentada para eliminar as populações operárias e trabalhadoras das periferias, já que na atualidade, não são mais necessárias para os empregos existentes.
A crise de hoje é a relação de conflito entre o público, os pobres, o privado e ricos. O bom senso mostra que essa situação somente pode agravar a violência já instalada na sociedade de classes, cada vez mais massacrante.

   


 

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

BONDADE DE PAI

A sociedade imediatista e consumista, desses nossos difíceis dias, está mudando a figura do pai de  família.  Cada dia fica mais difícil ver o pai de uma só família. 
Seguindo a imagem bíblica, os pais modernos são pais pródigos. Eles vão e vem de uma família para outra. Como o filho pródigo bíblico, os pais saem da família e demoram em regressar e, quando regressam, ficam por pouco tempo, porque hoje já é normal um pai ter mais de uma família. Fato social que não é nada de novo, pelos que estudam a evolução social. 
O homem moderno reparte seu tempo com o trabalho remunerado para poder sustentar as famílias que a natureza lhe proporcionou. A natureza tem sua própria lógica. Merece respeito.
A imagem que eu tenho do pai que trabalha em casa, que cuida da família e faz carinho aos filhos e, que sai a festas com os filhos, se torna cada vez mais complicado. O pai moderno, como outrora o filho pródigo, sente falta da família e volta, mas os tempos mudaram tanto que são poucas oportunidades que aparecem para ficar longos tempos.
Um amigo de trabalho, que já tem três famílias, me contava, esses dias, que a filha mais nova da primeira família perguntou a sua mãe:

"Mãe, porque você e pai se separaram"?
A mãe lhe respondeu:
"Pergunte ao seu pai"
Na sociedade moderna os filhos podem crescer e se desenvolver sem ter conhecimento do que seja a vida íntima dos seus pais. 
O filho pródigo da imagem bíblica, quando retorna para casa, arrependido, cria um conflito entre o irmão mais velho. A figura do pai da parábola bíblica do filho pródigo revela a bondade como solução aos conflitos humanos que aparecem nas relações inter pessoais. 
Nas famílias modernas percebemos que a ausência da figura paterna, por muito tempo, pode criar e , de fato cria, conflitos entre os irmãos das famílias e entre os próprios pais. Esses conflitos íntimos familiares, sem dúvida, se refletem na empresa, nas outras famílias, nas escolas e, especialmente, na sociedade. 
A violência que hoje, como nunca, está instalada na organização social, pode ter como causa a ausência da uma figura paterna bondosa e que busca o diálogo nos momentos críticos da vida.

A cultura contemporânea, representada nos filmes, teatros, musicais, novelas e romances, mostra o papel social dos pais pródigos nessa sociedade instável.
O romance de E. L. James , Cinquenta tons de cinza e a de J. Hawking, A teoria do todo, romances mais vendidos na atualidade, revelam situações de conflitos familiares e sociais devido ao papel dos modernos pais pródigos. A figura paterna e misericordiosa do pai, não  só está ausente, senão que é ridicularizada e até atacada pela poderosa mídia, divulgadora das ideologias do sistema que embrulha as pessoas.
O Papa Francisco, na sua visita pastoral ao Paraguai, dedicou o último discurso ao papel da família, como base de uma possível sociedade cordial, solidária e humana. 
Desejo, de coração, que, o DIA DOS PAIS 2015, marque o regresso do pai bondoso e misericordioso em todas as famílias, independente de sua orientação sobre a organização familiar.