sexta-feira, 27 de março de 2015

O DOCE DA IMORTALIDADE

A lenda da festividade da Páscoa contada pelos Evangelhos Canônicos, aqueles que a Igreja aceita como verdadeiros, está intimamente relacionada com a tendência emocional da raça humana da saudade duma vivência memorial imortal da identidade pessoal única que experimentamos desde o nascimento e, que logo o ambiente social trata de passar e repassar para o espírito dos cidadãos. Essa tendência e memória da vida imortal dos que morreram acaba de experimentar-se, de novo, no trágico acidente aéreo do dia 14 de março na cordilheira dos magníficos e misteriosos Alpes, na parte francesa. Os moradores das cidades das 150 vítimas, espontaneamente depositam nas escolas e praças velas, flores e mensagens, objetos que simbolizam o conteúdo da lenda e do mito da ressurreição depois da morte, ou seja a vida continua eternamente, como as águas do rio são sem antiguidade, passam sem parar e nunca são as mesmas e se encontram nos oceanos marítimos que juntam, como antigamente, o princípio da vida.
Esta fé do povo, manifestada nas mais diversas maneiras da vida, tanto alegres como um jogo de futebol, como trágicas como a morte inesperada ou esperada de qualquer ser. A fé da Páscoa comunica tanta doçura e bem - estar que somente o doce dos chocolates, fruto dos pés do cacaueiro, pode rememorar. Elemento da natureza, como tantos outros, que alegra a vida diária dos moradores. “ O doce mais doce que o doce é o doce da imortalidade” parodiando o refrão popular. As delícias da existência estão nos manjares mais gostosos e levam a mente da gente a pensar e a sentir o doce da vida eterna, como mostram tantas lendas e mitos em todos os tempos e espaços do longo caminhar da humanidade e em seus muitos modos de festejar esse sentimento imemorial que não pode deixar de ser real. Assim é o rito da Eucaristia ou a missa particitada.
Os sentimentos humanos são tão reais como as vivências íntimas da espiritualidade pessoal e coletiva, ainda que continua sempre no mistério. Com tudo, é no mistério que se encontra o SER VITAL, alegria da alma e do corpo do povo que espera a promessa.

Feliz Páscoa, leitores amigos!!!

quarta-feira, 18 de março de 2015

DEMOCRACIAS, PODERES BURGUESES

 Seguindo um raciocínio da filosofia neoliberal, o mundo está um caos, não porque o sistema, em si, seja deficiente, senão porque as pessoas são más. Suas ações pessoais não são coerentes com os princípios da liberdade, da subjetividade, da competição perfeita, da laboriosidade e das éticas  de cada ser humano, que somente se realiza, eticamente, quando mostra sua identidade pessoal no foro da intimidade e na vida profissional transparente.
A liberdade e o direito à iniciativa individual, na procura do bem estar pessoal e do grupo no poder, justifica qualquer ação, ainda que perversa, como a guerra, a exploração, o desemprego, a massificação, a fome, que nunca na história passada apareceu de maneira tão violenta e universal. O fim do lucro no mercado justifica qualquer meio.[1]
Tudo justifica a salvação das liberdades humanas, sobretudo dos que estão no poder. O atual regime democrático de governo dos estados pode ser o modelo dos grupos instalados nas esferas do poder, sustentadas pelo sistema capitalista de produção e de mercado. Porém, ele não revela a face de uma democracia de oportunidades econômicas, ainda que, ideologicamente, assim o professem e divulguem ostensivamente, como vemos pelos informativos da mídia mercenária.
  A nova onda de conservadorismo se alimenta dos princípios liberais que contribuíram para consolidar e justificar as posições conquistadas pela classe em ascensão - a burguesia - no processo de consolidação do grande capitalismo e imperialismo, concretizado nas revoluções inglesa, francesa e no processo da independência norte-americana. Concretizou-se, assim, a inspiração e superação de uma grande parcela do povo do ocidente, que vinha lutando para isso desde as comunas francesas e das organizações corporativistas do renascimento, na alta Idade  Média (ELIAS,1993).[2]
Escrever sobre a democracia dos partidos políticos no final do século XX ( XXI) dá idêntico constrangimento ao que daria escrever sobre monarquia no final do século XVIII, na França. O cientista político e atual presidente do Brasil( FHC) reconhece, em seu discurso de despedida do Senado, que “a democracia pode  ser o marasmo de uma democracia meramente formal, esvaziada de conteúdo econômico e social pelas pragas do elitismo, do fisiologismo e do corporativismo”. E na assinatura do prêmio Direitos Humanos, solenemente divulgado nas comemorações do dia da Independência, 1995, nos jardins do Palácio da Alvorada, reafirma que “a verdadeira democracia é a prática dos direitos humanos para todos, incluindo os pobres” (CARDOSO,1995).
  A apreensão da dúvida que paira sobre o valor da democracia está em todos os cérebros privilegiados do planeta. Mais de 1600 cientistas, entre eles 102 prêmios Nobel, afirmam que: “não fica mais que uma ou duas décadas antes que se perca a única oportunidade de salvar o planeta Terra” (WORLDWATCH INSTITUTE,   1994).
E  a receita certa dada pelos sábios para mudar a cor social  da Terra é:
- Distribuição da renda.
- Desenvolvimento econômico autossustentável.
- Controle demográfico (IBDEN).
Da receita da salvação, os donos do poder somente levaram a sério a terceira orientação, que trata do controle demográfico e que, todavia, foi encarada de uma maneira parcial, na conferência da ONU, no Cairo, em 1994, quando foi votado, por unanimidade, o controle responsável da natalidade. Não obstante, foi rejeitada a relação entre demografia e distribuição de renda, ao reconhecerem que os indígenas são pessoas humanas com dignidade pessoal. Contudo, rejeitaram, pelo voto, o reconhecimento dos indígenas como nação. O contrário seria reconhecer, na prática, a existência de nações autônomas dentro dos Estados Democráticos da América. A democracia, como mais um instrumento de poder de grupos hegemônicos e seus estados, mostrou, assim, sua face dominadora, pouco diferente da racionalidade instrumental e da moral-prática, peculiar aos outros regimes do passado recente (SANTOS,1996).





 [1]  El Estado del Mundo,1995. Anuario económico y geopolítico mundial. Madrid, Akal,1995. pp.518-547.
 [2]  As forças mais esclarecidas das sociedades humanas são as que primeiro alcançam as posições de poder e bem-estar, porém de uma maneira parcial, corporativista e classista.
Cf. Elias. op. cit.

terça-feira, 10 de março de 2015

MANIFESTAÇÕES DIRIGIDAS

        O sociólogo e político, professor Darci Ribeiro percebe, de uma maneira muito realista, a posição dos donos do poder na realidade da sociedade brasileira que vivemos perigosamente nesses dias. Assim se expressa o cientista:

 Nossa tipologia das classes sociais vê na cúpula dois corpos conflitantes, mas mutuamente complementares. O patronato de empresários, cujo poder vem da riqueza através da exploração econômica; e o patriciado, cujo mando decorre do desempenho de cargos, tal como o general, o deputado, o bispo,o líder sindical e tantíssimos outros. Naturalmente, cada patrício enriquecido quer ser patrão e cada patrão aspira às glórias de um mandato que lhe dê, além de riqueza, o poder de determinar o destino alheio.
Nas ultimas décadas surtiu e se expandiu um corpo estranho nessa cúpula. É o estamento gerencial das empresas estrangeiras, que passou a constituir o setor predominante das classes dominantes. Ele emprega os tecnocratas mais competentes e controla a mídia, conformando a opinião publica. Ele elege parlamentares e governantes. Ele manda, enfim, com desfaçatez cada vez mais desabrida. [1]
 O poder está também naqueles que têm a capacidade de cativar os outros com suas qualidades pessoais excepcionais e que, com sua personalidade dotada, transmitem admiração, espanto, respeito, devoção, obediência e vassalagem.


 [1]  Ribeiro, D. O povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil, S. Paulo, Ed. Companhia das Letras,1995. pp. 208-265. 

domingo, 1 de março de 2015

LIBERDADE DE EXPRESSÃO DIRIGIDA

  Quem fala e defende com unhas e sangue a liberdade de expressão são a legião de jornalistas dos informativos que formam a grande MÍDIA, hoje denominada de 4º poder na sociedade moderna na qual estamos inseridos, tanto se gostamos como senão gostamos. Até os nativos das terras da América Latina, África, Ásia e Oceania estão subordinados a essa sociedade do conhecimento.
  Porém conhecimento para os papas infalíveis da modernidade, (os jornalistas e suas empresas) entendem por conhecimento e verdade suas informações vindas das mentes iluminadas desses seres.
  Mas as notícias que mais publicam e difundem dogmaticamente são as notícias que dão vantagens econômicas, políticas, sociais, religiosas e militares.
  A notícia da vinda da minha sogra a casa para cuidar dos netos jamais será divulgada. Não da ( ibope) fortuna. Mas a notícia do que a sogra do presidente americano tem um caso com ele, essa, sim, da ibope e fortuna. Pouco importa a objetividade da notícia.( Nem sei se essa sogra existe!) A bomba saiu,. Estourou. Repercutiu. A tirada dos jornais aumentaram. Essa expressão será livre pela imprensa geral, mesmo que se logre, claro, provar que foi um mal entendido. Não passa nada.
  Vejam o caso atual do processo LAVA JATO ( pouco importa se falta água nas cidades, o processo continua). Até agora são notícias de jornalistas que ( escaparam) dos processos secretos das delações premiadas. Nada se provou. O que se percebe, bem na cara da gente, é a ligação da MIDIA UNIVERSAL para tirar do poder políticos e líderes que se dedicam a governar atendendo um pouco mais a população brasileira, sempre abandonada, desde a invasão das terras brasileiras por portugueses, espanhóis, franceses, holandeses, americanos, chineses...
   Essas corporações exercem o direito de expressão. Nada vale a fonte, nem a história. O que vale é o poder. O poder cria os direitos, as leis e as prisões pelos inimigos, jamais pelos amigos, ( por coincidência sempre ricos e poderosos).
   A liberdade de expressão é o direito de calar os pobres para sempre. Pobre não fala, não come, não dorme, não pensa. Se diverte nos programas mais inumanos e imorais da MIDIA televisiva e cibernética que domina e massifica a população faminta.
   A liberdade de expressão como sabemos e vemos cada dia é esconder sob o tapete as notícias objetivas dos acontecimentos dos graúdos, favorecidos pelo sistema.
   Sou a favor, sim, da liberdade de expressão para todo cidadão e de que seja ouvido tanto ou mais do que a MIDIA televisiva e empresa.
A sociedade seria outra, pode crer, amigo leitor.