Seguindo um raciocínio da filosofia neoliberal,
o mundo está um caos, não porque o sistema, em si, seja deficiente, senão
porque as pessoas são más. Suas ações pessoais não são coerentes com os
princípios da liberdade, da subjetividade, da competição perfeita, da
laboriosidade e das éticas de cada ser
humano, que somente se realiza, eticamente, quando mostra sua identidade
pessoal no foro da intimidade e na vida profissional transparente.
A
liberdade e o direito à iniciativa individual, na procura do bem estar pessoal
e do grupo no poder, justifica qualquer ação, ainda que perversa, como a
guerra, a exploração, o desemprego, a massificação, a fome, que nunca na
história passada apareceu de maneira tão violenta e universal. O fim do lucro
no mercado justifica qualquer meio.[1]
Tudo
justifica a salvação das liberdades humanas, sobretudo dos que estão no poder.
O atual regime democrático de governo dos estados pode ser o modelo dos grupos
instalados nas esferas do poder, sustentadas pelo sistema capitalista de
produção e de mercado. Porém, ele não revela a face de uma democracia de
oportunidades econômicas, ainda que, ideologicamente, assim o professem e divulguem
ostensivamente, como vemos pelos informativos da mídia mercenária.
A nova onda de conservadorismo se alimenta
dos princípios liberais que contribuíram para consolidar e justificar as
posições conquistadas pela classe em ascensão - a burguesia - no processo de
consolidação do grande capitalismo e imperialismo, concretizado nas revoluções
inglesa, francesa e no processo da independência norte-americana.
Concretizou-se, assim, a inspiração e superação de uma grande parcela do povo
do ocidente, que vinha lutando para isso desde as comunas francesas e das
organizações corporativistas do renascimento, na alta Idade Média (ELIAS,1993).[2]
Escrever
sobre a democracia dos partidos políticos no final do século XX ( XXI) dá
idêntico constrangimento ao que daria escrever sobre monarquia no final do
século XVIII, na França. O cientista político e atual presidente do Brasil(
FHC) reconhece, em seu discurso de despedida do Senado, que “a democracia pode ser o marasmo de uma democracia meramente
formal, esvaziada de conteúdo econômico e social pelas pragas do elitismo, do
fisiologismo e do corporativismo”. E na assinatura do prêmio Direitos
Humanos, solenemente divulgado nas comemorações do dia da Independência, 1995,
nos jardins do Palácio da Alvorada, reafirma que “a verdadeira democracia é a prática dos direitos humanos para todos,
incluindo os pobres” (CARDOSO,1995).
A apreensão da dúvida que paira sobre o valor
da democracia está em todos os cérebros privilegiados do planeta. Mais de 1600
cientistas, entre eles 102 prêmios Nobel, afirmam que: “não fica mais que uma ou duas décadas antes que se perca a única
oportunidade de salvar o planeta Terra” (WORLDWATCH INSTITUTE, 1994).
E a receita certa dada pelos sábios para mudar
a cor social da Terra é:
-
Distribuição da renda.
-
Desenvolvimento econômico autossustentável.
-
Controle demográfico (IBDEN).
Da
receita da salvação, os donos do poder somente levaram a sério a terceira
orientação, que trata do controle demográfico e que, todavia, foi encarada de
uma maneira parcial, na conferência da ONU, no Cairo, em 1994, quando foi
votado, por unanimidade, o controle responsável da natalidade. Não obstante,
foi rejeitada a relação entre demografia e distribuição de renda, ao
reconhecerem que os indígenas são pessoas humanas com dignidade pessoal.
Contudo, rejeitaram, pelo voto, o
reconhecimento dos indígenas como nação. O contrário seria reconhecer, na prática, a existência de nações autônomas dentro dos
Estados Democráticos da América. A democracia, como mais um instrumento de
poder de grupos hegemônicos e seus estados, mostrou, assim, sua face dominadora,
pouco diferente da racionalidade instrumental e da moral-prática, peculiar aos
outros regimes do passado recente (SANTOS,1996).
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