segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A CULTURA É PERMANENTE




A cultura significa as respostas coletivas dum povo que, sob diversas formas, manifesta o modo de pensar, de agir e de ser criativo, conforme os desafios da natureza e a aceitação coletiva as respostas dadas.  
Quando atividades ditas culturais pertencem a indivíduos ou grupos fechados e não se integram, de fato, à população da cidade jamais serão cultura. Seria muito mais um ato cultual.
O culto narcisista de indivíduos e de grupos que agem soberanamente sobre a população promovendo ações ditas culturais, dentro da mesma cultura popular permanente, os interesses são somente personalistas. A cultura é caricatura.
O sistema econômica de hoje conseguiu, por interesses, dividir a cultura entre cultura erudita, burguesa e o folclore, a verdadeira cultura popular. Toda divisão é feita para confundir e confunde mesmo.
 A cultura é a resposta coletiva do povo aos muitos desafios da natureza física e mental.
Quando será que os movimentos culturais se unirão, de fato, para juntamente com os dirigentes municiapais desenvolverem permanentemente a cultura e, com ela, o desenvolvimento?  



BEM NASCIDOS


Bem nascidos

            Domingo dia 05 de fevereiro, como todos os domingos, por convicção e tradição ancestral aceita, participei da missa paroquial.  Tenho grande prazer de ir à missa aos domingos, porque me encontro com os amigos da comunidade da grande e complexa cidade onde  resido.Vivo o ensinamento do Mestre: - Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, lá estou Eu entre eles. Que encanto!

            No final da missa seguiram-se os costumeiros avisos das atividades previstas para a semana. Uma das atividades programadas da semana, que iniciava, seria uma reunião de líderes comunitários para serem orientados sobre a Campanha da Fraternidade 2012 que acontece no tempo chamado de Quaresma, em relação aos quarenta dias do jejum de Jesus no deserto. Lugar de reflexão.  O objetivo patente da Campanha da Fraternidade consiste em situar a religião católica e cristã na onda dos tempos do deus mercado. A cúpula da Igreja Católica, orientada por excelentes sociólogos e, claro, teólogos, tenta buscar temas vitais às sociedades contemporâneas.

            Segundo a informação o tema da Campanha para esse ano é SAÚDE PARA TODOS.

            Confesso, Este anuncio caiu na minha mente e no meu corpo como uma benção. Estou convencido e acredito que a mãe Natureza criou-nos sadios. A Natureza é justa e solidária e diferenciada na beleza do ser. O natural estado de saúde se fundamenta na revelação bíblica da criação permanente. – Deus chamou para a vida os continentes da terra e as profundezas das águas dos mares e Deus viu que tudo o criado era bom.

            Além da revelação judaica, outras visões humanas mostram a natureza alegre, bela, exuberante, misteriosa, previsível, benfazeja, como a dos povos da África, segundo relato do antropólogo e político mineiro Darcy Ribeiro, no livro O povo Brasileiro: formação e sentido do Brasil ( 1995): -  O negro-massa continua tendo erupções de criatividade. Esse é o caso do culto a Iemanjá, que em poucos anos transformou-se completamente. Essa entidade negra, que se cultuava a 2 de fevereiro na Bahia e a 8 de março em São Paulo, foi arrastada pelos negros  do Rio de Janeiro para 31 de dezembro. Com isso aposentamos o velho e ridículo Papai Noel, barbado, comendo frutas européias secas, arrastado num carro puxado por veados. Em seu lugar, surge, depois da Grécia,  a primeira santa que fode. À Iemanjá não se vai pedir a cura do câncer ou da AIDS, pede-se um amante carinhoso e que o marido não bate tanto (PP.264-265).

            Nos lamentáveis e preocupantes fatos da greve de policiais que esses dias ocorrem na Bahia com a provocação da profanação da igreja de Iemanjá, o povo manifesta: _  ”. É que ela é como o símbolo, não das religiões monoteístas preocupadas pelo além e pela salvação da almas, com os medos dos infernos. Não. Iemanjá  é reina e  símbolo “da terra misteriosa da felicidade e da liberdade. Imagem da terra misteriosa de África. Saudades dos dias livres da floresta

Feitos do amor

            A convicção e a fé de que todo nascido é saudável, livre, alegre, e belo emerge da constatação que o Pai Criador somente age por amor, porque Deus é amor. Quem ama jamais faz sofrer. O Criador ou a Natureza jamais são sacanas.

            Sim, muitos dirão e até com veemência que está doente. Que conhecem doentes. Que muita gente no mundo sofre. Aliás,  nunca como hoje se sofreu tanto durante a longa história humana, apesar das badaladas tecnologias de I+D. Está claro que eu vejo doentes, fome, guerras, etc. Aqui vejo junto com muita gente  a mistura da luz com as sombras de escuridão, base da grandeza da opção humana.

            O nosso artista plástico Cândido Portinari, cuja restauração do painel Guerra e Paz que preside a sede da ONU , em Nova Yorque, revela as duas formas da vida na sociedade mercantil, privatizada convencionalmente. A Paz representa a vida saudável, inocente, alegre, livre do povo e a Guerra, mostra a brutalidade humana quando se afasta da relação humana comunitária.

            Os enfermos, as guerras e sofrimentos apareceram  no mundo o primeiro dia que os humanos, milhões de anos atrás , pronunciaram essas inconciliáveis palavras : - Meu e Teu.

No Evangelho da missa, desse mesmo domingo, vimos o Mestre curar enfermos e expulsar demônios. Jesus sabia que tudo, na criação, é bom. Enfermidades e demônios surgem da mente do homem não relacionada amorosamente.

A Campanha da Fraternidade retorna no início da criação que é agora. Depende das relações que sejam reestabelecidas.  

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

MESMICE

O Tião e o Lourenço acabam de sentar-se no boteco da Rua Redonda do bairro periférico no norte da cidade industrial. Os dois compadres pegam simultaneamente o copinho de cachaça e, cheirando o líquido sagrado, brindam o santo que parece habitar no pó do pisado chão.Tião e Lourenço, olhos lacrimosos, se olham. Lourenço desvia o olhar para a entrada do boteco, contemplando os populares da rua. Muitos passam de liso, outros, seduzidos, param no barcinho. Lourenço, sem deixar de olhar a movimentada rua, fala para o Tião: - Compadre, o povo já está gozando o novo tempo.
 O Tião, acompanhando os gestos do Lourenço e, seguindo a meada da conversa inicial, anuncia convencido:
- Amigos saudamos o novo ano que está batendo as portas da vida da gente. Feliz ano novo. Saúde. Paz. Muito dinheiro no bolso... Viva!!!

 A cambada desafinada, brada: - Viva!!!
 Alguns dos freqüentadores e alegres curiosos aplaudem e aplaudem e rosnam... vi.vi.vi.viva!  De repente o Turíbio que está sentado e encostado na soleira da porta, língua enroscada, revida:  - Igua, igu, igual o ano passado... Todos os botequineiros calam. O Turíbio, entusiasmado pelo sucesso, se levanta e urra: - Igual,igual,igualzinho ano passado... Lourenço e Tião, levantando ainda mais a voz gritam: -  Feliz ano novo. Todos acompanham  berrando: -Viva!!!
 O Turíbio que já está mais pra lá de Bagdá, cambaleando começa a cantar:

                                               Ciranda, Cirandinha vamos todos...

Tião e Lourenço, hipnotizados pelo impacto do momento, agrupam os colegas que estão no boteco. Inesperadamente o Turíbio situa-se no centro do grupo. Os outros começam a dança de roda infantil... ”Ciranda, cirandinha,  vamos todos cirandar...” Roda, roda, roda.
O grupo de amigos embalados pela batucada e pela cachaça festejam. O grupo  empolgado se apinha ao redor do Turíbio. Ele cambaleia, porém satisfeito grita: -    Gente, igual, igualzinho ano passado.. .
 Ninguém percebe que os transeuntes param. Festeja-se o tempo dançando ao redor do chumbado Turíbio que, no fundo, se sente artista. Roda que roda. O Turíbio não mais escuta ninguém. Vislumbra rostos e rostos rindo, diluídos, burlescos, iguais fantasmas brancosos lá, bem longe, longe, longínquo. De repente o Turíbio cai espatifado no chão do boteco, agora, um palco da rotineira comédia da vida. Os fregueses do boteco continuam rodando e repetindo: Igualzinho ano passado.
- Alegria besta! - grita o Tião no ouvido do compadre.. O Turíbio e cada um de nós  carregamos mais tempo. Ninguém escuta. Todos dançam, cantam e bebem e babam...na festa da vida.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

MUDAR É POSSÍVEL


Que percussão!

            Seriam nove horas de manhã do dia 24 de agosto. A quente luz do sol matinal, do final do belo inverno, enche de luz o amplo Auditório da Guarda Municipal da Prefeitura de Belo Horizonte. O Auditório está lotado de iluminados a espera do início do 1º Seminário sobre o Programa de Desenvolvimento de Estágio na Prefeitura de Belo Horizonte.

 De longe um pianíssimo ritmo de batucada popular lentamente avança como o largo clarear da alvorada das Gerais. Incrível! A platéia fica em estado de contemplação mística. O ritmo invade as entranhas. E gestos harmônicos emergem dos corpos e das almas dos professores, funcionários e alunos, estagiários das secretarias municipais de Recursos Humanos e do Planejamento, Orçamento e Gestão, liderados pelos respectivos e digníssimos secretários e por professores municipais e alunos de Betim e Contagem e do Centro Universitário Isabela  Hendrix e  do da Uma.

Um grupo de alegres adolescentes, alunos da Escola Municipal  Pe. Francisco sincronicamente se situa no cenário do salão executando um concerto de percussão, cujo ritmo penetra nas almas dos atônitos participantes. Era o anuncio espetacular dos acontecimentos que se seguiriam durante o atípico Seminário  sobre o estágio, sentido e aceito como ato educativo. Os alunos sorridentes, balançando os jovens corpos com  artísticos movimentos corporais e guturais davam o recado secular, já na arca dos esquecidos e, hoje, redivivo: “ o mestre não é maior que os alunos e só apreende quem ouve e o aluno, por ser pessoa humana, é um sujeito inteligente por natureza”.

A invasão dos jovens alunos artistas e a manifestação da arte que comunicavam marcou, sim, o ritmo dos trabalhos do Seminário sobre o desenvolvimento do estágio nas escolas e nas repartições públicas das prefeituras presentes.

Potencialidades

            As potencialidades inatas gratuitamente dadas pelos alunos contagiaram professores, funcionários e estagiários presentes no Seminário que já se apresentava diferente dos outros muitos seminários regionais, e nacionais dos que organizei e participei.

  Os mais de duzentos participantes irmanados pela beleza da arte se integraram numa comum união fazendo fluir livremente as potências criativas manifestadas pelas idéias e práticas dos conferencistas e pelo diálogo aberto dos debates que se seguiam no ritmo vibrante da percussão inicial. No lugar do ruído dos típicos tambores e baquetas sentia-se o forte impacto das idéias e das práticas profissionais reais locais, nacionais e internacionais que motivavam todos os participantes na proposta de uma educação profissional  fundamentada no estágio como “mundo do trabalho e como a prática social” que leva no seu bojo potencialidades para definir o projeto pedagógico de outra educação brasileira para a era pós-moderna que estamos vivenciando, integrados nos atributos da mundialização , aceitos e interiorizados, não mais como uma técnica de dominação imperialista, atualizada e bem camuflada pelo capitalismo de ficção da atualidade, mas antes, como uma característica determinante de um projeto consciente, compartilhado e construído por uma produção de qualidade, por uma integração científica, por uma geração de mútua confiança, por uma compreensão das relações humanas, pelo valor da legalidade dialogal e, sobretudo, pela comunicação e cooperação e entre todos os participantes do projeto de educação e qualificação profissional, conforme as diretrizes curriculares que equacionaram a LDBEN , ao conceituar o estágio como uma experiência prática na linha de especialização, como uma integração científica, como o relacionamento humano, fundamentado nas relações sociais e essenciais da produção e como uma extensão e ação comunitária que dimensiona a universalidade do conhecimento, cuja origem se encontra na própria prática do saber fazer.

Uníssonos  os participantes do 1º Seminário sobre o Programa de Desenvolvimento de Estágio  na Prefeitura de Belo Horizonte proclamaram que outra educação é possível sempre que as políticas públicas de ensino deixem, de vez, de serem uma falácia, para se tornarem um lento e festivo avanço, semelhante ao grupo de jovens alunos percussionistas que motivaram os receptivos participantes do 1º Seminário sobre a prática profissional, base do aumento do fundo do conhecimento e do bem - estar pessoal e social.