O Tião, acompanhando os gestos do Lourenço e, seguindo a meada da conversa inicial, anuncia convencido:
- Amigos saudamos o novo ano que está batendo as portas da vida da gente. Feliz ano novo. Saúde. Paz. Muito dinheiro no bolso... Viva!!!
A cambada desafinada, brada: - Viva!!!
Alguns dos freqüentadores e alegres curiosos aplaudem
e aplaudem e rosnam... vi.vi.vi.viva! De
repente o Turíbio que está sentado e encostado na soleira da porta, língua
enroscada, revida: - Igua, igu, igual o
ano passado... Todos os botequineiros calam. O Turíbio, entusiasmado pelo
sucesso, se levanta e urra: - Igual,igual,igualzinho ano passado... Lourenço e
Tião, levantando ainda mais a voz gritam: - Feliz ano novo. Todos acompanham berrando: -Viva!!! O Turíbio que já está mais pra lá de Bagdá, cambaleando começa a cantar:
Ciranda, Cirandinha vamos todos...
Tião e Lourenço, hipnotizados pelo impacto do momento, agrupam os colegas
que estão no boteco. Inesperadamente o Turíbio situa-se no centro do grupo. Os
outros começam a dança de roda infantil... ”Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...” Roda, roda, roda.
O grupo de amigos embalados pela
batucada e pela cachaça festejam. O grupo
empolgado se apinha ao redor do Turíbio. Ele cambaleia, porém satisfeito
grita: - Gente, igual, igualzinho ano
passado.. . Ninguém percebe que os transeuntes param. Festeja-se o tempo dançando ao redor do chumbado Turíbio que, no fundo, se sente artista. Roda que roda. O Turíbio não mais escuta ninguém. Vislumbra rostos e rostos rindo, diluídos, burlescos, iguais fantasmas brancosos lá, bem longe, longe, longínquo. De repente o Turíbio cai espatifado no chão do boteco, agora, um palco da rotineira comédia da vida. Os fregueses do boteco continuam rodando e repetindo: Igualzinho ano passado.
- Alegria besta! - grita o Tião no ouvido do compadre.. O Turíbio e cada um de nós carregamos mais tempo. Ninguém escuta. Todos dançam, cantam e bebem e babam...na festa da vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário