terça-feira, 25 de outubro de 2016

MEU JULGAMENTO POLÍTICO


Sem querer comparar-me a tantas personalidades históricas julgadas e condenadas injustamente , mas para entender melhor que a justiça humana, normalmente é falha, vou contar meu julgamento político, durante os primeiros meses da ditadura militar e grupos conservadores da direita ( 1964).
Depois de ter sido preso durante cinco dias no quartel militar de Juiz de Fora, acusado de socialista por cidadãos da cidade, fui julgado no DI4, em Belo Horizonte. Os juízes eram militares de patente, presididos por um coronel que fazia as perguntas com a seriedade e gracejos de quem acha que é infalível, porque tem o poder sobre vida e morte dos pobres idealistas.
A pergunta que mostra o teatro ridículo dos julgamentos foi a seguinte:
- Por que o senhor mexeu em política?
Respondi com toda educação e tranqüilidade. - Senhor coronel, eu trabalhei dando aulas de filosofia, religião e economia. Ademais organizei o grupo de jovens Gente Nova, juntamente com o informativo semanal noticiando fatos ocorridos na cidade e na região. Também, junto com líderes camponeses, fundamos sindicatos de camponeses e organizamos o movimento de empregadas que exerciam sua função sem nenhuma garantia trabalhista. Meu senhor, isso era, em resumo, o meu trabalho. Foi para isso que fui convidado e pago pela diocese para estar e trabalhar na região.
Pois veja, insistia o senhor coronel. – Tenho aqui nas minhas mãos uma carta do seu pai que, dias atrás, o aconselhava a não mexer com política.
 Enfaticamente prosseguia .- Escute o que escreve seu pai. Filho, lembra o que se passou na ditadura de Franco em que todos os que faziam política de esquerda eram presos e mortos. Filho, tem juízo!
Ai, eu, irônico e com emoção, fingida, replico ao justiceiro coronel. - Senhor coronel, não sabe a alegria que o senhor me dá ao afirmar que tem uma carta do meu pai. Mas que felicidade poder receber uma carta do meu querido pai! Me mostre essa carta, meu bom coronel. Quero tocá-la em minhas mãos. Mais que emoção! Sabe porque, senhor coronel? Imagine, meu querido pai faleceu quando eu tinha dois anos, em 1935. Que milagre receber, agora, uma carta dele. Por favor, quero guardá-la...
O coronel olhou seriamente para os outros doutores da lei. Dos seus olhos saiam faíscas.
Eu rindo lhe disse.- Senhor coronel, todas as acusações que o senhor recebeu sobre mim e colegas são falsas, como a carta de meu querido pai que jamais tive a sorte de conhecer.
Eis mais um fato real de como são os julgamentos dos humanos. “ Não vejo motivo nenhum de condenação”. “ Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque.  deles é o Reino dos Céus”( Lc, 5, 10)
A história sempre lhes agradecerá o ideal da liberdade.


quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PROCESSO DEMOCRÁTICO

Numa democracia representativa o ato de votar livre é um processo importante do regime democrático, mas não o único, nem o mais importante. Pela minha experiência e pelos estudos, estou convencido de que a democracia é um conjunto de elementos interligados e complementares. Os partidos políticos, representativos dos desejos e interesses dos membros de comunidades sociais, são a base da democracia. É no partido que se formam seus afiliados, conscientes de que somente, como partido, podem ter oportunidade real de serem ouvidos e poderem decidir nos diversos governos municipais, estaduais e federais. Sem partidos ativos, conscientes e representativos dos grupos nacionais, fica muito difícil o funcionamento normal do regime democrático. As idéias presentes nas mentes dos indivíduos que se afiliam livremente ao partido poderão competir livremente para poder formar governo, juntamente com os outros partidos que tenham o mesmo formato, mesmo que as idéias sejam e devam ser diferentes. As deferências constroem a beleza social e pessoal de uma comunidade de Estado de Direito. O respeito as idéias dos outros fundamenta uma convivência pacífica e progressista entre todos os partidos.
O voto se torna o ato responsável e livre para o cidadão poder colocar o partido perto do governo ou dentro do governo e assim poder decidir nos atos normais e formais do governo.
Os partidos políticos respondem sempre as idéias afins dos cidadãos que configuram o partido que mais se adapta ao modo de ser de cada cidadão. Somente assim é possível a formação de uma sociedade livre, pacífica e próspera.
Uma sociedade, como a nossa, com partidos de conveniência,  ou pior, partidos de aluguel ou mesmo, partidos de grupos corporativos, fica muito complicado viver democraticamente.
Sei que o resultado das eleições municipais de 02 O. sacudiram partidos importantes e que os grupos dominantes da política e da economia do país continuarão articulando e confabulando, conforme interesses. Porque esses partidos representam interesses privados e de grupos hegemônicos, que não respeitam as idéias e as diferenças dos contrários, a nossa sociedade seguirá na turbulência. Entendo que vencedores e vencidos pouco contribuirão para uma comunidade democrática, pacífica e, livremente produtiva.