Sem querer comparar-me
a tantas personalidades históricas julgadas e condenadas injustamente , mas
para entender melhor que a justiça humana, normalmente é falha, vou contar meu
julgamento político, durante os primeiros meses da ditadura militar e grupos
conservadores da direita ( 1964).
Depois de ter sido
preso durante cinco dias no quartel militar de Juiz de Fora, acusado de
socialista por cidadãos da cidade, fui julgado no DI4, em Belo Horizonte. Os
juízes eram militares de patente, presididos por um coronel que fazia as
perguntas com a seriedade e gracejos de quem acha que é infalível, porque tem o
poder sobre vida e morte dos pobres idealistas.
A pergunta que mostra o
teatro ridículo dos julgamentos foi a seguinte:
- Por que o senhor
mexeu em política?
Respondi com toda
educação e tranqüilidade. - Senhor coronel, eu trabalhei dando aulas de filosofia,
religião e economia. Ademais organizei o grupo de jovens Gente Nova, juntamente
com o informativo semanal noticiando fatos ocorridos na cidade e na região.
Também, junto com líderes camponeses, fundamos sindicatos de camponeses e
organizamos o movimento de empregadas que exerciam sua função sem nenhuma
garantia trabalhista. Meu senhor, isso era, em resumo, o meu trabalho. Foi para
isso que fui convidado e pago pela diocese para estar e trabalhar na região.
Pois veja, insistia o
senhor coronel. – Tenho aqui nas minhas mãos uma carta do seu pai que, dias
atrás, o aconselhava a não mexer com política.
Enfaticamente prosseguia .- Escute o que
escreve seu pai. Filho, lembra o que se passou na ditadura de Franco em que
todos os que faziam política de esquerda eram presos e mortos. Filho, tem
juízo!
Ai, eu, irônico e com
emoção, fingida, replico ao justiceiro coronel. - Senhor coronel, não sabe a alegria
que o senhor me dá ao afirmar que tem uma carta do meu pai. Mas que felicidade
poder receber uma carta do meu querido pai! Me mostre essa carta, meu bom
coronel. Quero tocá-la em minhas mãos. Mais que emoção! Sabe porque, senhor
coronel? Imagine, meu querido pai faleceu quando eu tinha dois anos, em 1935. Que milagre receber, agora, uma carta dele. Por favor, quero guardá-la...
O coronel olhou
seriamente para os outros doutores da lei. Dos seus olhos saiam faíscas.
Eu rindo lhe disse.-
Senhor coronel, todas as acusações que o senhor recebeu sobre mim e colegas são
falsas, como a carta de meu querido pai que jamais tive a sorte de
conhecer.
Eis mais um fato real
de como são os julgamentos dos humanos. “ Não vejo motivo nenhum de condenação”.
“ Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque. deles é o Reino dos Céus”( Lc, 5, 10)
A história sempre lhes
agradecerá o ideal da liberdade.
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