quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

 


                      GRANDE SERTÃO: VEREDAS; A FORÇA DA BELEZA

                                                                                 Jorge Solivellas Perelló
                                                                                                              Escritor e Professor- www.cemper,com.br

            O clássico historiador Plutarco ensina que ao contar a história de um herói resulta impossível narrar exaustivamente todas as façanhas da personagem. A causa dessa dificuldade reside nas grandes quantidades de ações, de fatos,  de escritos e de discursos que se encadeiam na vida dos grandes homens da história como Alexandro Magno, Cesar, Homero e Guimarães Rosa. Por isso sempre é melhor contar sumariamente alguma particularidade que se pode descobrir dentro da ingente obra da vida das celebridades.
 O escritor se parece ao pintor que sempre costuma pintar os rasgos mais destacados do caráter da personagem que busca desenhar. Os destaques ilustrados são sempre subjetivos. O artista olha pessoas, coisas e fenômenos acontecidos de um modo pessoal, único, diferente. Relaciona-se com a sensibilidade e com o talento de cada observador, pintor, cantor ou narrador.
Além disso, todo contador de histórias reais experimenta grande dificuldade para distinguir as virtudes dos defeitos que podem misturar-se na vida e na obra de toda personagem. Nos campos cultivados aparecem o trigo rozando à cizânia. Quem é sensível sabe distinguir, respeitar e valorizar cada aspecto da realidade que percebe nas pessoas e objetos que descreve.
            Às vezes um pequeno assunto, uma palavra, um humor, um delicado gesto, um olhar revelam melhor o caráter de uma pessoa, muito mais que sua empolgante participação aos grandes acontecimentos e façanhas feitos em favor das comunidades e dos povos por onde se vive. O artista, o escritor e mestre talentoso costumam penetrar e comunicar as intimidades das pessoas que analisam e descrevem. Contar e desenhar a alma dos indivíduos demonstra sabedoria e o poder de comunicar parte da realidade pessoal e social abrangente onde se desenvolvem as histórias que se desejam narrar.


Rosa era sábio, porque sabia tirar dos reinos da realidade escondida a beleza humana que escondem, como quando no conto "Campos Gerais" nos narra a emoção do menino Miguilim ao contar a sua mãe que o Mutum, sua terra nativa, era lugar bonito e sua mãe absorta noutra realidade lhe responde: "estou sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Rosa (1967: 28-29).
Aprender é descobrir outras coisas que acontecem detrás dos morros da vida. Aprender é como diz Guimarães Rosa, desconfiar daquilo que os outros ensinam. Aprende-se com o traquejo do comportamento das pessoas. Aprender é vislumbrar e inventar outro sistema de vida social onde as famílias e as pessoas todas, sem exceção, vivam em harmonia servindo umas às outras, como Riobaldo, protagonista do romance Grande Sertão: Veredas descobre no povoado Verde Alecrim:
. Cheguei e logo achei que lugar tal devia era de ser nome de Paraíso. No Verde-Alecrim, delas era toda a terra plantável. Por isso, os moradores e suas famílias serviam a elas, com muita harmonia de ser e todos os préstimos, obsequiando e respeitando - conforme eu mesmo achei bem: um sistema que em toda a parte devia de sempre usar. (1986: 466-7)

João Guimarães Rosa é um aprendiz eterno porque mostra com produtos belos, duradouros o que ele aprendeu. Ele não se fecha na prospera vida profissional de médico doutor. Ele se abre ao mundo do sertão que atende, diagnostica e sara, aprendendo a participar, como autor, do redemoinho da vida. Como diplomata não se contentará em usufruir as benesses e belezas dos patronos e patrícios políticos com os quais lidou durante mais de vinte anos. Ele saberá planejar o tempo favorável da vida burguesa para regalar ao mundo suas obras e escritos clássicos que humanizarão as pessoas da sociedade atual e futura. Ele é mestre porque sua luz meridional foi posta no alto dos morros das comunidades para iluminar e guiar todos os que são ávidos de verdades.
João não se intimidou ante as regras e métodos fixados pela escrita e fala. Ele, fiel e artisticamente, soube sinalar seu caminho pessoal de ir pela vida desse mundo, ele soube revelar seu método peculiar e o seu modo de escrever, de ler e de falar do povo e dos sábios que acreditam na sabedoria do povo. A obra épica Grande Sertão, Veredas, é o eterno exemplo da metodologia científica pessoal, individual, única e eternamente criativa. Ele soube tecer em filigrana uma existência pessoal repleta de afeto ao transformar pessoas, coisas e fenômenos em atos de amor, como vemos no texto que segue: "a flor do amor tem muitos nomes. Nhorinha prostituta, pimenta-branca, boca cheirosa, o bafo de menino-pequeno" ( Rosa,1986:164). Nesse texto, Guimarães Rosa identifica o amor que sente em sua alma a todas às coisas e pessoas do mesmo modo como ama sua namorada Otacília, pois "toda moça é mansa, é branca e delicada. Otacília era a mais". O amor humaniza e personaliza tudo o que as pessoas tocam, e essa presença amorosa nas pessoas e objetos os fazem transcender e ser de um modo eterno, divino. Aprender - repetimos é conhecer para bem viver e viver amando, construindo, assim, a identidade que realmente personaliza." Eu sou é eu mesmo"(Rosa, 1986.p.8).
                A sensualidade fruída ao contemplar as infinitas cores do horizonte longínquo do cerrado sertanejo repleto de flores e plantas infunde na alma uma sensação de prazer instintivo e divino. Este gozo delicado, fecundo, livre e emocional está incluso na palavra mística, sempre mal entendida, por ter sido mal explicada pelos tímidos mestres. O bem - estar que penetra no âmago da alma contemplativa da beleza material, como a rosa e da beleza imaterial  - como a cultura – que constroem a realidade complexa do mundo, do cosmos se sintetiza no fato místico do contato feliz sem fim.
            Ao contemplar a natureza descrita na poesia literária das obras de Guimarães Rosa entramos na sensualidade amorosa do prazer que emana da plenitude dos objetos e personagens reinventados por Rosa, porém presentes na vida real. Mística significa contemplar e gozar a realidade da natureza criada.
Nas obras de Rosa se encontram todas as belas artes da história humana como são: literatura original, humorismo, divertimento, religião, representação de personagens que se encontram por toda parte da sociedade, qualquer que seja. Pensar Rosa é pensar Sete Lagoas. É pensar Minas. É pensar o mundo. Discutir Rosa é fundamentar a vida.   ".O vau da vida é a alegria. O vau da vida é a coragem. Carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que salva da loucura."( Rosa, 1986.p.8)
            Conhecer as obras de Rosa significa rever o mundo em suas belezas naturais e imateriais das artes materializadas na literatura, danças, músicas, contos e teatros representativos da vida do sertão que, segundo Guimarães Rosa é o  mundo. Debater a temática de Rosa é penetrar na cultura que fomenta a vida progressiva da comunidade na qualidade da vida.
.           Os estudos e avaliações dos nomes das plantas, paisagens e personagens, pestes , superstições e fé que cita e descreve Guimarães Rosa, comunica, sem dúvida, a sensação de penetrar na dança do prazer da vida.
A terra com as plantas, árvores, águas, animais e frutos foi criada para ser cultivada pelo homem. O homem é o senhor da terra. A aventura dos homens será sair da casa. Caminhar pelo mato em companhia de lavradores, sertanejos e profissionais aventureiros na procura de melhores lavouras para melhor plantar e recolher os alimentos para as famílias A Terra é Mãe de tudo e a todos cuida. Na aventura de cultivar a terra acontecerão fatos inesperados, misteriosos, tenebrosos, criminosos, porém sempre esperançosos e demais prazerosos.

BIOGRAFIA
Guimarães Rosa. J. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986.
 Lorenz Günter.  "Diálogo com Guimarães Rosa". Guimarães Rosa. (Coleção Fortuna Crítica). Org.  Eduardo F. Coutinho.  Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,1983. pp 62-100
Solivellas Perelló. J. . Amantes de Rosa: o prazer de ler. Sete Lagoas, Ed. Sertão, 2006
...........................................................Guimarães Rosa  e Miguel de Cervantes contemplativos do sertão e de La Mancha, a realaidade. In: Veredas de Rosa. Belo Horizonte.Puc. Minas, 2000,PP.304
.........................................................Felisberto  e Maritornes, dois nomes, dois lugares, dois tempos e um humanismo.in: Veredas de Rosa II. Belo \Horizonte, Puc. Minas, 2001.pp.349









           


           


--
---------------------------------------------------------------------------------------------------
Visite o meu blog:  http://veredassl.blogspot.com/

 

 

                            2 0 1 1,  N O V A   E T A P A  D O   B R A S I L  

                                                                                              Jorge  Solivellas Perelló

                                                                                                              Escritor e Professor- www.cemper.com.br

 

Brasil novo

            O ano 2011 começa por ser governado, oficialmente, por vez primeira, por uma mulher,  a Presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores. Esta constatação é um fato histórico novo incontestável, apesar de a sociedade industrial ser ainda  patriarcal ( machista ), o Brasil entra no Ano Novo com um governo inovado. Este fato evidencia uma mudança na sociedade brasileira, mais que uma mudança na sociedade, se trata de uma nova etapa na história do Brasil.

            Aplaudimos e com esperança felicitamos a entrada nessa nova etapa da história do Brasil. Sabe-se que a história se constrói com fatos, não com palavras ou discursos retóricos pedantes. A história avança pelas inovações criativas.

            Modernos estudiosos da sociedade atual ensinam que a mudança de etapa na história da civilização ocorre quando simultaneamente se alteram três inovações chaves na sociedade: novas fontes de energia; novas fontes de divisão do trabalho e novas divisões do poder. Essas três inovações indicam que houve, na sociedade, uma mudança de modelo de vida da população. Mudar o modelo de vida significa que os  indivíduos do território nacional manifestam uma nova maneira de pensar e, ao mudar a mentalidade, mudam as atividades dos cidadãos. As pessoas passam a ser diferentes, porque as obras deles são diferentes. Mostram novo caráter, um novo ser. Em palavras mais acadêmicas se diria que as pessoas do Brasil têm outra ética, a ética do bom, do bem, do solidário, da tolerância, do cuidado. Este é, sem dúvida, o verdadeiro sentido da palavra ética até agora tão mal usada na velha sociedade de corporações fechadas.

            Dividir o poder político entre a população é uma evidente inovação e uma mudança. Até pouco tempo atrás, o poder estava nas mãos dos poderosos, dos ricos, dos mais fortes e bem armados.  Há pouco, ainda, o Estado estava por cima do povo, porque os indivíduos que governavam, em nome do povo, estavam segregados do povo, saíram da vida do povo para viver na vida dos abastados e dominantes da sociedade massificada.

            O Brasil, governado pela Presidente Senhora Dona Dilma, de 62 anos de idade, mineira, militante de movimentos populares que lutaram contra a ditadura dos ricos e poderosos prova que o poder, no Brasil se dividiu entre a população dos muitos pobres e excluídos. Dentro do regime democrático que impera no Brasil, por primeira vez, o poder que, pela ideologia burguesa vem do povo, agora é administrado pela maioria da classe média que iniciou devagarzinho a mudança de mentalidade. A população brasileira que adquiriu, no governo passado, um pouco mais dos bens produzidos no país, mostra que deseja permanecer e, ainda, aumentar o patamar da escada social a que, por fim, chegou. As primeiras frases da Presidente eleita informavam de como o poder seria dividido, quando afirmou publicamente que a democracia se manifestaria em todas as dimensões

Novo trabalho

            O Ano Novo significa a inovação na divisão do trabalho na sociedade brasileira.

            A mentalidade sobre o trabalho está mudando no mundo, de tal maneira que, a nossa sociedade é modelo da inovação do trabalho. O trabalho visto até hã pouco tempo, como atividade para peões e trabalhadores de fábrica, onde usavam muita força física, e pouca força intelectual, imaterial, atualmente mudou para as categorias pensantes dedicadas aos sistemas dos comandos de informática, da dedicação aos serviços e a atividades artísticas que resultaram ser mais econômicas e lucrativas que o trabalho braçal dos tempos da indústria.

            Coloco, como prova dessa afirmação, o modelo de divisão de trabalho no carnaval do Rio e do Salvador, assim como também poderia comentar-se a organização do trabalho no modelo de divertimento do Rock in Rio assim como poderia ver-se também noutros lugares do país.  Nesses carnavais se observa a fina mistura da criação de sentido com produção de riqueza, alegria com aprendizado, pluralismo com identidade

A auto-organização do carnaval se estrutura de forma tão ordenada que somente a motivação, a fantasia e racionalidade do povo conseguem unir a disciplina inovadora com os passes livres dos jogos divertidos. Torna-se uma festa doce, pouco agressiva. Não se controla, como faz a fábrica, mas se orienta com fascínio dos sons e das cores inspiradas pelo próprio povo. Os carnavais criam riqueza. Porque penetra e acredita na economia  dos dons que toda pessoa humana possui e desenvolve quando está livre e solta e motivada.

Inovação energética.

            O terceiro fator de mudança de época se concentra nas inovações energéticas. A energia do sol distribui a vida no planeta terra. As novas fontes de energia, tiradas do sol, do mar, dos rios, das árvores, plantas, das minas nas entranhas da terra constatam os câmbios climáticos que transformaram a vida social e natural.

            O Brasil, nos últimos anos, se dedicou a explorar energias renováveis e limpas e passou a entrar no restrito e agressivo clube de países exportadores de energia. No mundo global quem possui energia em abundâncias subiu no patamar do poder mundial. O Brasil contemporâneo foi admitido, por seus méritos, nesse responsável patamar.

            As etapas na história da humanidade não se rompem de repente. A história é um movimento. Dentro desse movimento ainda persistem fragmentos das etapas passadas. Porém o modelo, o modo da vida muda e como!

            Felicitamos a chegada da nova etapa na história do  Brasil e continuaremos investindo nas inovações que mudam a história para o bom e o bem.

                  



--
 
---------------------------------------------------------------------------------------------------
Visite o meu blog:  http://veredassl.blogspot.com/