quarta-feira, 6 de julho de 2016

ONIPOTENTE SISTEMA DE FICÇÕES

A guerra santa, a responsabilidade moral das empresas, o comércio justo, o marketing com causa, a transparência na política, a estética das plásticas, a orgia do esporte, e os reality show, a vídeo vigilância universal, a cultura do shopping, a cidade como parque temático, a copia global, a democracia importada e adaptada aos gostos de cada Estado e ou partido, a clonagem, a customização, produção personalizada, os vírus misteriosos ou o gen suicida, são fenômenos do capitalismo de ficção, dentro de uma esfera onde a representação mediática ganhou a batalha e o real se convalida pela realidade do espetáculo do ganho - perde.
Para essa mudança faz-se necessário, primeiro, converter ao cidadão em espectador e, segundo, vender as entradas a todo um planeta homogeneo, cada vez mais susceptível de ser tratado com um território sem choques, nem problemas., nem lixo. Tudo é reciclado. Estes espetáculos se dissolvem progressivamente no capitalismo de ficção tão irresistível como um gás e tão fatal como o impulso da natureza. Uma natureza que ingressou, desde o ecologismo empresarial, até os direitos humanos dos animais, na mesma música das simulações.
Um universo, por fim, onde se pode ser, ao mesmo tempo, destruidor e reconstruidor bélico, criminal e humanitário, operário e capitalista, católico e budista, homem e mulher. Tudo acontece sem que ninguém tenha interesse em estar vivo ou morto. Ou, incluso, se a de-função - morte possui sentido no meio da incessante função contínua, vinte quatro horas sobre vinte quatro horas, sete dias sobre sete dias, que inaugurou o onipotente sistema de ficções.
Hoje, por acaso, vi e ouvi um canal de televisão nacional que comentava a morte trágica de uma médica ao passar pelas vias Amarelas e Vermelhas, caminho da gloriosa Barra da Tijuca-Rio-.
Era lamentável ver o espetáculo dos assassinatos diários tratados como uma diversão, amarela, porém diversão. Mesmo sabendo que o fato da morte faz parte do movimento da vida, sempre foi tratada com certo respeito e mistéio sagrado, carregado de dor e esperança, mas jamais como uma diversão comercial como é tratada na atualidade. A vida é um sonho; um sonho é uma linguagem que carrega uma mensagem mítica, ignorada pelo sistema.




                

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