Estava no ponto central
da cidade esperando a lotação para regressar a casa. Sentei no banco do ponto.
Fiquei perto de uma senhora, mas deixando certo lugar para outros usuários. Uma
jovem branca, aparentando uns 25 anos, senta-se entre a senhora e eu. A jovem e
a senhora conversam Logo a jovem branca
me estende a mão esquerda com várias moedas na palma e me pede completar o
valor da passagem. Tinha uma nota de dois reais e dei-a para a jovem mulher
Até aqui todo usual. A novidade aconteceu
quando a jovem mulher branca me encara e pede para eu adotar-la, afirmando que
ela tomaria conta de mim muito bem. Confessou que seus pais já morreram e não
deixaram nada para ela poder viver e morar. Pasmado olhei-a sério e nada disse.
Chegou a lotação e subimos eu e a senhora. A jovem mulher branca ficou. A
senhora sentou no fundo da lotação e olhando para mim dava um convidativo
sorriso. Correspondi, mas sentei solzinho, bem na frente do ônibus.
Adolescentes, jovens e mulheres se oferecerem
aos homens, como meio de sobrevivência, é comum na nossa cidade. Por isso não é
notícia que dá ibope. Tornou-se fato social e pronto. Esse fato tem uma causa. A
causa desse comportamento em todo o mundo está na desigualdade social que
fundamenta a sociedade capitalista, porque essa, ao contrário das outras, se
estrutura a base do poder que hoje é dinheiro. O dinheiro, como toda mercadoria
é um bem escasso, limitado e que pode acabar. O capitalismo colocou o dinheiro no centro da
atividade social. Aquele que detém capital está investido
de soberania, tornando-se o senhor, o dominador, o legislador, o patrão, o
gerente o dono.
A desigualdade social
causa a miséria que se vive hoje nas nossas cidades. Esta causa somente
desaparecerá quando em conjunto se aplique a política distributiva e desapareça
a desigualdade social.
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