A carência é a situação natural da deficiência e limitação humana que
experimenta todo ser vivo. R
As pessoas e o mundo não foram criados. Eles estão sendo criados no
eterno movimento do vida.( Teoria da Relatividade e Mecânica Quantica,Stephen
Hwking) A vida que é alma se movimenta no povo de modo permanente.
A palavra “carece” nos contos e argumento do Grande Sertão, Veredas, tal vez seja uma das palavras que mais estão presentes, indicando o atributo principal dos componentes dos seres da comunidade humana que se nota no ser questionador, pessoa aberta e universal (Perello, 2004 ). Essa qualidade da alma popular é tão expressiva que o pedinte e cego Borromeu foi o escolhido por Riobaldo, chefe do maior grupo de jagunços guerreiros, para montar e estar sempre emparelhado da banda da mão direita do comandante. O carente de luz e pedinte de esmolas adivinha a vinda das pragas que outros rogam, e, assim, vão defastando o mau poder delas ( Rosa,1986:393).
A paz e felicidade do Sertão não reside em manipular ou explorar a
carência - ciência - das pessoas, como o faz hoje o capitalismo de ficção
e de laços humanos líquidos ( Verdú, 2003; Z.Z. Bauman, Zahar, 2004).
O carente, como observamos, se torna, de fato, o
confidente e, por isso, o amigo afetuoso dos membros da comunidade. Os
agentes do povo sempre se dão as mãos para juntos aprender, sonhar, crescer e
chegar cada dia mais perto duma sociedade solidária. A vida sae do povo,
conjunto de pessoas comunicadas intersubjetivamente nas relações sociais e produtivas
que satisfazem o bem - estar pessoal e comunitário. Os produtos, os
fenômenos, as obras e acontecimentos que se forjam, no traquejo quotidiano,
formam a rede da vida em que as pessoas se enrolam
A existência do outro constitui o
fundamento de toda comunidade e cultura. Porque existe um “você” – alteridade -
existe um “eu” – individualidade-. Para que, a existência do outro possa
realizar-se na comunidade é necessário condições persistentes, aceitas e
entendidas por todos tanto no plano imaterial - sistemas de valores, simbologia
- como no plano da prática - instituições políticas, instrumentalização
econômica. Guimarães Rosa já adverte que “quando o projeto que Deus
começa é para muito adiante, a ruindade nativa do homem só é capaz de ver o
próximo de Deus é em figura do Outro”( Rosa,1986:29-30) Como se insinua na
longa narrativa épica rosiana esse Outro é o semelhante, o reconhecido igual ao
sujeito pensante e prático, criador da imagem do OUTRO – Deus, o Bom ou
da imagem do OUTRO - o diabo, o Coisa –Ruim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário