sábado, 12 de setembro de 2015

SOMOS SERES CARENTES


A carência é a situação natural da deficiência e limitação humana que experimenta todo ser vivo. R

As pessoas e o mundo não foram criados. Eles estão sendo criados no eterno movimento do vida.( Teoria da Relatividade e Mecânica Quantica,Stephen Hwking)  A vida que é alma se movimenta no povo de modo permanente.

A palavra “carece” nos contos e argumento do Grande Sertão, Veredas, tal vez seja uma das palavras que mais estão presentes, indicando o atributo principal dos componentes dos seres da comunidade humana que se nota no ser questionador, pessoa aberta e universal (Perello, 2004 ). Essa qualidade da alma popular é tão expressiva que o pedinte e cego Borromeu foi o escolhido por Riobaldo, chefe do maior grupo de jagunços guerreiros, para montar e estar sempre emparelhado da banda  da mão direita  do comandante. O carente de luz e pedinte de esmolas adivinha a vinda das pragas que outros rogam, e, assim, vão defastando o mau poder delas ( Rosa,1986:393).

A paz e felicidade do Sertão não reside em manipular ou explorar a carência - ciência -  das pessoas, como o faz hoje o capitalismo de ficção e de laços humanos líquidos ( Verdú, 2003; Z.Z. Bauman, Zahar, 2004).

O carente, como observamos, se torna, de fato, o confidente e, por isso, o amigo afetuoso dos membros da comunidade.  Os agentes do povo sempre se dão as mãos para juntos aprender, sonhar, crescer e chegar cada dia mais perto duma sociedade solidária. A vida sae do povo, conjunto de pessoas comunicadas intersubjetivamente nas relações sociais e produtivas que satisfazem o bem - estar  pessoal e comunitário. Os produtos, os fenômenos, as obras e acontecimentos que se forjam, no traquejo quotidiano, formam a rede da vida em que as pessoas se enrolam

A existência do outro constitui o fundamento de toda comunidade e cultura. Porque existe um “você” – alteridade - existe um “eu” – individualidade-. Para que, a existência do outro possa realizar-se na comunidade é necessário condições persistentes, aceitas e entendidas por todos tanto no plano imaterial - sistemas de valores, simbologia - como no plano da prática - instituições políticas, instrumentalização econômica. Guimarães Rosa já adverte que “quando o projeto que Deus começa é para muito adiante, a ruindade nativa do homem só é capaz de ver o próximo de Deus é em figura do Outro”( Rosa,1986:29-30) Como se insinua na longa narrativa épica rosiana esse Outro é o semelhante, o reconhecido igual ao sujeito pensante e prático, criador da imagem do OUTRO – Deus, o Bom  ou da  imagem do OUTRO - o diabo, o Coisa –Ruim.




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