terça-feira, 2 de setembro de 2014

O CANTO DA SEREIA

Que descansada vida quem foge do ruído mundanal e do barulho industrial.
Que descansada vida quem navega nas águas do Solimões, penetrando no Amazonas prateado, sombreado de eternas verdes folhas em esbeltos troncos milenários regados.
Que descansada vida quem no silêncio da escura floresta tropical, agarrada no pau seringal chupa o branco sangue que manchará o asfalto universal e lhe dará um real.
Que descansada vida do índio que pula nas águas eternas, negras e prenhas do pantanal do norte e do sul.
Que descansada vida do cidadão que acorda no concerto matinal da passarada, que anda pela terra molhada, que colhe cogumelos, paus, frutos e secos, generosamente presenteados pela mãe floresta.
Que descansada vida  do analfabeto que lê, entende, fala e comunica os sons, músicas e vozes dos moradores da selva dos Silvas e Pereiras brasileiros, do norte, nordeste e sul.
Que descansada vida do fiel indivíduo que ouve e segue a voz do seu espírito, livre, sem dogmas de expertos habilitados aforados.
Que descansada vida quem é o mestre de sua espiritualidade. Ele é Deus, Criador, Pai.
Que vida aborrecida
quem acorda nos sons eletrônico do celular comprado a prazos.
Que vida aborrecida
quem come alimentos comprados, no suor do rosto. Castigo do capital, seguro.
Que vida aborrecida
quem veste roupas impostas a natureza e cobradas culturalmente no mercado global!
Que vida aborrecida
trabalhar pra patrão e chorar por não ter onde trabalhar.
Que vida aborrecida
quem paga para amar!
Que vida burlada
aqueles que divulgam meter a vida passível da floresta do Brasil livre à vida aborrecida do Brasil industrial, plantado, rasgado e vendido.
Que vida burlada
quem acredita mudar a política bancária por uma política libertária.
Que descansada vida
quem sabe que vale mais pássaro na mão que mil voando.
Que descansada vida tapar ouvidos aos melífluos cantos das sereias assassinas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário