segunda-feira, 18 de julho de 2016

PRATICAR A MISERICÓRDIA

A diocese de Sete Lagoas comemora nesses dias os 60 anos da ação evangelizadora entre os moradores da região. A novidade se concentra na palavra JUBILEU.
 O Papa Francisco estabeleceu o Ano do Jubileu da Misericórdia, dando o sentido à palavra Jubileu que na Bíblia tem o significado do perdão das dívidas que os cidadãos de Israel contraiam a cada 50 anos de trabalhos. A Igreja primitiva seguiu essa tradição de valores das comunidades de fé (Ac. 2.44-45. A cada 25 anos se proclamava o Jubileu para o perdão de toda dívida. Mais tarde, se ajuntou o perdão de todos os pecados, conseqüência da heresia maniqueísta que proclamava a presencia do bem e do mal. O Jubileu era tempo de indulgência e de perdão total dos pecados pessoais. Iniciou-se, assim, a conduta subjetiva, responsável da ação individual dos atos cometidos pessoalmente. Começava a perder-se o valor comunitário para entrar o valor subjetivo que acarrearia a maldita culpa e o supra valor das ações individuais competitivas, cuja consequência é a sociedade meritocrática e neurótica da atualidade.
 A palavra MISERICÓRDIA, expressa o valor de aceitar a miséria humana e elevar-la ao perdão, ou seja, ao retorno inicial do bem, presente na pessoa humana, feita a imagem de Deus ( Gn. 1.27; At. 3.16).
A alegria do anuncio do nascimento do Salvador, esperado, na cidade de David, proclamou: “gloria a Deus e paz aos homens a quem Deus tem misericórdia”. A misericórdia de Deus é experimentada pelos trabalhadores ( Lc. 2.10-14).
Os fieis, reunidos em casas, vivendo em harmonia, glorificavam a Deus e bebiam do cálice da Misericórdia em experiência comunitária ( Ac. 2.26-47).
 Comunidade e fé se atravessam uma com a outra, de tal maneira, que podemos dizer que nossa fé tem a comunidade como sua fundação e que a comunidade tem a fé como sua fundação.  
Foi para anunciar essa Boa Nova do Reino que eu e mais três jovens colegas chegamos nessa cidade de Sete Lagoas, a pedido dos bispos brasileiros com a missão de fundar e manter o primeiro seminário da diocese com o objetivo de preparar líderes formadores de comunidades de fé e ação evangelizadora.
 O tempo e os fatos acontecidos na sociedade americana e internacional e os anúncios do Concílio Vaticano II convenceram aos fieis de que o comportamento dos ministérios atingisse os próximos e usar de misericórdia como fez o bom samaritano ( Lc.10.36-37).
A sabedoria dos fatos do povo mostrava a necessidade de mudanças. Depois de debater, orar e refletir optou-se por continuar a missão de evangelizar nessa diocese, mediante atividades mais próximas da gente. Seguindo as orientações do Vaticano II optamos para trabalhar com os mais pobres e necessitados.
A diocese tinha somente 6 anos. Junto com Dom José iniciamos um trabalho com os moradores da cidade e da roça. Éramos bem recebidos pela gente que correspondia aos desejos de mudanças, ansiosos de escutar a mensagem da Boa Nova do Reino: acolher com misericórdia, repartindo bens  às comunidades. Esse acolhimento da mensagem evangélica iniciava um processo de renovação na sociedade conservadora, porém aos poucos, teve a reação das famílias tradicionais que se repartem o poder e, com o golpe militar do 64 e a delação de beatos das igrejas, reprimiram a renovação. A semente da ação da misericórdia está lançada.



quarta-feira, 13 de julho de 2016

APREENDENDO COM O POVO

Estava no ponto central da cidade esperando a lotação para regressar a casa. Sentei no banco do ponto. Fiquei perto de uma senhora, mas deixando certo lugar para outros usuários. Uma jovem branca, aparentando uns 25 anos, senta-se entre a senhora e eu. A jovem e a senhora conversam  Logo a jovem branca me estende a mão esquerda com várias moedas na palma e me pede completar o valor da passagem. Tinha uma nota de dois reais e dei-a para a jovem mulher
 Até aqui todo usual. A novidade aconteceu quando a jovem mulher branca me encara e pede para eu adotar-la, afirmando que ela tomaria conta de mim muito bem. Confessou que seus pais já morreram e não deixaram nada para ela poder viver e morar. Pasmado olhei-a sério e nada disse. Chegou a lotação e subimos eu e a senhora. A jovem mulher branca ficou. A senhora sentou no fundo da lotação e olhando para mim dava um convidativo sorriso. Correspondi, mas sentei solzinho, bem na frente do ônibus.
 Adolescentes, jovens e mulheres se oferecerem aos homens, como meio de sobrevivência, é comum na nossa cidade. Por isso não é notícia que dá ibope. Tornou-se fato social e pronto. Esse fato tem uma causa. A causa desse comportamento em todo o mundo está na desigualdade social que fundamenta a sociedade capitalista, porque essa, ao contrário das outras, se estrutura a base do poder que hoje é dinheiro. O dinheiro, como toda mercadoria é um bem escasso, limitado e que pode acabar. O capitalismo colocou o dinheiro no centro da atividade social. Aquele que detém capital está investido de soberania, tornando-se o senhor, o dominador, o legislador, o patrão, o gerente o dono.
A desigualdade social causa a miséria que se vive hoje nas nossas cidades. Esta causa somente desaparecerá quando em conjunto se aplique a política distributiva e desapareça a desigualdade social.
  

  

quarta-feira, 6 de julho de 2016

ONIPOTENTE SISTEMA DE FICÇÕES

A guerra santa, a responsabilidade moral das empresas, o comércio justo, o marketing com causa, a transparência na política, a estética das plásticas, a orgia do esporte, e os reality show, a vídeo vigilância universal, a cultura do shopping, a cidade como parque temático, a copia global, a democracia importada e adaptada aos gostos de cada Estado e ou partido, a clonagem, a customização, produção personalizada, os vírus misteriosos ou o gen suicida, são fenômenos do capitalismo de ficção, dentro de uma esfera onde a representação mediática ganhou a batalha e o real se convalida pela realidade do espetáculo do ganho - perde.
Para essa mudança faz-se necessário, primeiro, converter ao cidadão em espectador e, segundo, vender as entradas a todo um planeta homogeneo, cada vez mais susceptível de ser tratado com um território sem choques, nem problemas., nem lixo. Tudo é reciclado. Estes espetáculos se dissolvem progressivamente no capitalismo de ficção tão irresistível como um gás e tão fatal como o impulso da natureza. Uma natureza que ingressou, desde o ecologismo empresarial, até os direitos humanos dos animais, na mesma música das simulações.
Um universo, por fim, onde se pode ser, ao mesmo tempo, destruidor e reconstruidor bélico, criminal e humanitário, operário e capitalista, católico e budista, homem e mulher. Tudo acontece sem que ninguém tenha interesse em estar vivo ou morto. Ou, incluso, se a de-função - morte possui sentido no meio da incessante função contínua, vinte quatro horas sobre vinte quatro horas, sete dias sobre sete dias, que inaugurou o onipotente sistema de ficções.
Hoje, por acaso, vi e ouvi um canal de televisão nacional que comentava a morte trágica de uma médica ao passar pelas vias Amarelas e Vermelhas, caminho da gloriosa Barra da Tijuca-Rio-.
Era lamentável ver o espetáculo dos assassinatos diários tratados como uma diversão, amarela, porém diversão. Mesmo sabendo que o fato da morte faz parte do movimento da vida, sempre foi tratada com certo respeito e mistéio sagrado, carregado de dor e esperança, mas jamais como uma diversão comercial como é tratada na atualidade. A vida é um sonho; um sonho é uma linguagem que carrega uma mensagem mítica, ignorada pelo sistema.