quinta-feira, 19 de maio de 2016

Eu vivia em São Paulo fazendo trabalho pastoral em bairros de trabalhadores e de classe media e, também, aproveitava as universidades da capital para convalidar meus estudos feitos na Espanha. Na universidade fez amigos que tínhamos ideias afins e algumas noites saíamos ao teatro, sobretudo ao teatro contestador, como o do Chico Buarque. Fomos a um teatro na rua Augusto para ver o obra Roda Viva. Obra musical, dança e fala. Obra que representava a realidade vivida pela comunidade nacional. Insisto que era de uma maneira simulada, pois a repressão era brava. A plateia lotada de jovens riam, cantava, aplaudiam, chincavam, se emocionavam, davam gritos de luta. O Chico estava toda a obra sentado numa cadeira perto de mesa de bar, devendo e bem chumbado. Só falava, de tempo em tempo, a mesma palavra:"merda", debochando.a platéia morria de rir;
Foi a partir desses encontros que entremos em contato com movimentos de oposição nacional ao governo da ditadura do 64.. 

Infelizmente a repressão era tão brava que muitos colegas se perderam. Outros fugiram. Outros entraram na guerra de guerrilha urbana, mudando de cidade e de estado.
Nesses movimento conheci Frei Beto, Tito. e Dom Helder Câmara , arcebispo de Recife,que, cada quinze dias ,vinha a São Paulo, em casa de amigos , onde recebíamos lições de vida e orações para o bem dos brasileiros mais pobres e excluídos dos bens da vida normal.

Foram tempos que, apesar de sofrer, apreendemos a amar melhor as pessoas que precisavam serem ajudadas.
Dom José Thurler, meu bispo, animava a gente para não desistir e confiar. Ele sempre nos defenderia em qualquer circunstância. 
Mesmo na igreja católica oficial sempre existem seres humanos que tomam o evangelho ao pé da letra. Grato Dom José e tantos amigos que já partiram da convivência visível, mas sinto que hoje estão, como Chico Buarque, bem perto de nós. Agora estamos na ditadura dos togados. Bem pior que a das armas.Coragem para resistir sempre!!! Brasil merece. A história parece que se repete, mas não. A história avança. A gente também!

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