Eu sorrio porque o dia em
que nasci senti que minha mãe sorriu-me. Desde aquele longínquo dia jamais
deixei de sorrir.
Aquela impressão na tabua
lisa do meu cérebro irradiou todos neurônios até o presente momento e será
muito difícil dissipar. Na névoa daquele primeiro sorriso senti que estava bem.
Muito bem. Soube que meu primeiro encontro com o outro diferente de mim era
minha mãe que, além de sorrir, me acalentava com suave pele e o quente alento.
Os bicos das mamas da mãe colados nos meus lábios sustentavam a tenra vida pela
seiva natural do leito materno. Minha mãe foi, agora eu sei, minha primeira
transa com o outro e, por primeira vez experimentei o que era a plena
satisfação
Sorri, esquentei, palpei, chupei o alimento
vegetal que verte do outro como a água da nascente da floresta que desliza,
rega, rola, vitaliza. Descobri a ligação vital dos instintos naturais com a mãe
gente e com a mãe ecológica. A relação prazerosa se torna atividade sensual,
comunicativa, nutritiva, aberta aos seres vivos. Assim, inconsciente, ainda,
vivi a religião. Religião que evoca a união simbiótica com o cosmos na sua
evolução criativa permanente.
Oh força, oh potência da
natureza, a quanto se expande, e quão extensos limites tem a satisfação dos instintos!
O clamor popular ensina
que a mulher amada se parece ao rosto, corpo e alma da primeira mulher que amei
quando a este mundo cheguei. É provável.
Os semelhantes se atraem na paixão do amor, feito sorriso de mãe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário