sábado, 28 de setembro de 2013

QUEM É POVO?

As diferenças A palavra povo, sem dúvida, é uma das mais faladas entre a gente e das mais conceituadas nos vocabulários das línguas modernas. Só o dicionário português do A. Houaiss propõe 16 conceitos e o velho dicionário do Aurélio, 10 definições. Para os políticos de carreira, infelizmente o povo são todos os indivíduos que votam e pagam impostos. Os brasileiros que não votam, nem pagam impostos, na mentalidade exclusivista dos políticos de carreira e das elites dominantes das sociedades modernas, não são povo. São uma carga que se deve descartar. Para os religiosos, povo são os fiéis que frequentam os cultos das religiões e pagam o dízimo. Por dízimo se entende o dinheirinho tirado do salário ou ingressos dos que o possuem bens que são, segundo a mentalidade dos religiosos, bens recebidos de Deus. Será que os desempregados e miseráveis que não possuem bens não são abençoado por Deus? Eis mais uma contradição. Contudo os despossuídos, em geral, são os que mais freqüentam os cultos e, mesmo sem salário, contribuem com dotações, como podem observar diariamente nos muitos templos das cidades e arraiais dos países pobres e em desenvolvimento. Acabamos de ser informados de que o Papa Francisco visitou um convento, propriedade da Igreja italiana e que foi cedido para ser ocupado pelos refugiados das guerras ou dos países da área da fome. O Papa pediu que os prédios desocupados das igrejas que em Itália são 20% ou 30% das propriedades devem ser ocupados pela carne de Cristo. Os pobres, afirma o Papa, são a carne de Jesus. Os pobres formam o Corpo de Cristo, a comunidade humana. O jornalista, cientista social e ex- deputado federal Márcio Moreira Alves no famoso livro O Cristo do Povo, Rio de Janeiro, Sabiá, 1968, declara povo os cidadãos brasileiros que se opuseram ao golpe militar de 1964 e que muitos deles foram perseguidos, presos, torturados e mortos, somente porque acreditavam que o Brasil poderia realizar as reformas de base rural, urbana e bancaria, beneficiando assim, todos os brasileiros que vivem no mesmo território e falam a mesma língua, exceto as ainda existentes 132 nações indígenas de língua e religião própria e singular e que moram no mesmo território, onde nasceram ou , hoje, território demarcado pelo governo brasileiro e que são pouco respeitados nos seus direitos naturais de viver livres, segundo seus costumes ancestrais. Para os empresários, empreendedores e executivos o povo são os indivíduos que podem e querem oferecer a força física para acompanhar as bem organizadas linhas de produção e vendas de grandes e pequenas empresas. Os indivíduos que rendem pouco são despedidos com ou sem justa causa, apesar de o trabalho ser um dos direitos humanos internacionais e reconhecidos pela Organização Internacional do Trabalho- OIT- uma das instituições da Organização Nacional dos Estados- ONU- Para as classes medias povo são todos os excluídos da vida social urbana. São os habitantes das periferias dos bairros pobres das grandes cidades do mundo que formam um conjunto de pessoas atraídas pelo do mercado de consumo de bens, oferecidos no sistema econômico competitivo. Historicamente a classe media urbana são as responsáveis para a manutenção do sistema político contemporâneo, pois na democracia importada dos países ricos, os votos dos elementos que formam as classes medias, no intuito de subir ainda mais na sociedade entregam seu voto para candidatos de partidos que acreditam poderão garantir o que já possuem e, ainda, aumentar mais os bens que esperam. A classe média anela imitar as elites sociais que compram, passeiam, fazem carreira profissional lucrativa, como médicos, engenheiros, advogados, militares, gerentes, etc. As classes meias lutam desesperadamente para jamais regressar no estado de pobreza do qual se liberaram e, para conseguir o objetivo pessoal e corporativo, aceitam os projetos políticos que garantem sua perene ascensão, mesmo que seja em prejuízo dos excluídos, o povo. As fileiras Sempre que passo perto de uma Lotérica, tanto dos bairros como do centro observo grande fileira de indivíduos, masculinos e femininos, jovens e idosos compostos em uma enorme fileira índia, mais ou menos reta. As pessoas estão serias muito serias. A fileira dos idosos é menos longa, porém mais deprimente. Os idosos mostram os sinais do sofrimento de toda uma longa vida de trabalho e se condicionaram a qualquer afronta da vida dita social. Os idosos estão na caixa preferencial de nome, porque de preferencial se tem um pálido cartaz. Os indivíduos de todas as fileiras das lotéricas são povo. Uma jovem, bonita e bem vestida demorou demais na caixa preferencial da Lotérica, quando, por fim, deixou a caixa o povo das fileiras aplaudia sua ida á rua. Ela pega um carrinho de nenê vigiado por outra jovem e, com cara de desprezo, grita: - vocês não tem nada que ver com minha vida. Será? Acabo esse texto com a definição nº 8 do dicionário português de Houaiss povo é: “Conjunto de cidadãos de um país, excluindo-se os dirigentes e a elite econômica”

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