quarta-feira, 9 de outubro de 2013

SEM COMUNIDADE NÃO SOU NINGUÉM

Pensa comigo, leitor- Quem foi que me trouxe neste mundo de pessoas, animais, plantas e perspectivas? Quem foi? Foram meus pais que se amaram, seguindo a natureza, e eu apareci. Sem a participação do pai e da mãe parece inviável minha existência nesse mundo tão complexo. Os pais da gente formam um par de pessoas. São dois. Um conceito plural que progride para outros muitos conceitos de seres criados que nos cercam, marcam, delimitam e dignificam. Os poucos ou os muitos sujeitos, sempre unidos, formam famílias, grupos de parentesco, grupos tribais, grupos rurais, grupos urbanos organizados em grêmios, fábricas, associações, sindicatos, igrejas, escolas, clubes, povoados, cidades e modernamente, seguindo ditames do mercado competitivo, em metrópoles de Estados tidos como independentes politicamente pensando. Dentro desse emaranhado de grupos humanos sempre se encontra um conjunto de pessoas que formam micro ou macro comunidades criativas e relacionadas entre si e em ações cooperativas, consciente ou inconscientemente. No caso da gente, um fato aparece com evidência. A comunidade me cria, forma, desenvolve e situa no espaço e tempo em que me toca viver como ser único e relacionado. Vejamos. Meu pai morreu de apendicites supurada quando tinha 35 anos. Em 1934 a penicilina ainda não era aplicada. Minha mãe viúva de 24 anos e dois filhos pequenos foi apreender uma profissão na capital do Estado. Se deslocou de uma comunidade para outra. Os filhos ficaram com os avós paternos até minha mãe formar e montar uma pequena empresa na cidade. A empresa se formou com a cooperação da mãe e pessoas da cidade natal, além de pessoas da capital e até do país. Não sofri nenhum trauma até agora, pois o ambiente familiar e social continuava propício. As relações familiares e sociais sadias me proporcionaram uma convivência infantil e uma adolescência aventureira, apesar de viver em guerra civil entre comunistas e franquistas e a guerra mundial entre os aliados capitalistas e os fascistas alemães, italianos e japoneses. Desses tempos somente tenho agradáveis lembranças, graças a força da comunidade familiar e social da cidade. Ainda adolescente tomei a frente da empresa familiar, composta de cosméticos, roupas e representações de modas de grandes fábricas de Barcelona. O poder católico da cidade era marcante, por isso aos 16 anos, movido por circunstâncias locais da comunidade que me criou e formou, optei por seguir os conselhos de Dom Quixote na hora de escolher a profissão: casa real, mar ou igreja, onde se deve entender por ser militar, comerciante, ou religioso. Escolhi ir ao seminário. As famílias da cidade me pagaram os estudos e moradia na capital do Estado até formar-me padre. Na década do cinquenta a comunidade mundial vivia o pesadelo do comunismo que dominava metade do mundo. Lembro que eu mesmo tinha pavor ao comunismo, porque me colocaram na mente juvenil que os comunistas tiravam as moradias das pessoas, as terras e os bens. Produtos com os quais eu cresci e vivi muito feliz. O Papa Pio XII organizou uma cruzada para que religiosos católicos de Europa fossem trabalhar no terceiro mundo para que essas partes do mundo não caíssem em poder dos comunistas. Eu e mais três colegas nós oferecemos voluntários para ir a América Latina e nos incorporaram aos pedidos dos bispos do Brasil. Durante quatro anos estudamos no Colégio Maior Teológico no Campus da Universidade de Madri, junto a outros jovens que também se preparavam para partir pelo mundo, recebendo conhecimentos da língua, costumes e cultura do pais escolhido para colaborar durante um período, selado por um acordo entre as comunidade católica da diocese original-meu caso, Mallorca- e a comunidade formada pela Organização de Cooperação Sacerdotal Hispano Americana, com sede em Madrid e a comunidade católica da diocese escolhida no Brasil- Sete Lagoas- O acordo era de cinco anos e era assinado por todos os envolvidos. Cumpridos os cinco anos se podia renovar ou rescindir o contrato com a diocese escolhida ou entrar em outra comunidade. A comunidade cristã do Brasil e a comunidade de Sete Lagoas viabilizou o desenvolvimento dos objetivos pessoais e sociais que o grupo de padres espanhóis e a diocese de Sete Lagoas projetaram. Mais uma vez aparece o papel fundamental da comunidade na vida da gente, tanto para existir, como para conviver e crescer como pessoa e como ser comunitário criativo. Estes fatos narrados da minha vida, como a de todos os nascidos, provam que a força que move a sociedade humana emerge da comunidade. A vida da gente é andar com a comunidade. Sem a comunidade ninguém pode existir, nem progredir, nem educar-se. A comunidade não tira nada de ninguém. A comunidade local, regional, nacional e mundial é como o colo da mãe. Somente sabe gerar vida na brasa do amor que jamais perece. .

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