O Carnaval de 2013,
para mim, resultou ser inesperadamente muito diferente dos jocosos carnavais
que já passei na minha vida.
Sempre gostei de carnaval, por serem propositalmente dias de
brincadeiras, cantos danças, orações, estudos, comes e bebes, farras e
surpreendentes aventuras amorosas e prazerosamente ariscadas.
Constantemente tenho insistido em meus artigos, livros,
cursos e debates de que a vida é uma permanente festa. Quando o mundo não é
festividade é por circunstâncias dum meio intruso difícil de compreender, como
a queda do recente meteorito nos Urales da Rúsia. Muita gente tentou justificar
e vejo que o meio cada vez está mais embrulhado e embrutecido.
Passei o carnaval entre bebes e crianças e cuidando delas na
casa grande da cidade bela dos lagos verdejantes do sertão.
Nunca tinha observado que o sorriso dos nenês é diferente do
sorriso dos adultos.Os bebes tem um sorrir doce, vindo do interior, contagiante
pela originalidade. É um sorrir que penetra na alma da gente. Notei que os
nenês não falam; riem, gesticulam,
mexem, espicham, contemplam, dormem, caem, mamam e se aconchegam. Choram
somente por necessidades básicas da sobrevivência. As crianças se agrupam. Usam
sua original língua e gestos para se comunicar. Dialogam, repartem. Quando se
cansam ficam quietos e dormem como anjinhos. Ver-los dormir convida a contemplação
e adoração. O ambiente é de paz. Somente perturbada por adultos autoritários.
Ai o bicho pega! Os meninos ensaiam uma revolta. As crianças berram e partem pra
ignorância que somente uma conversa humana dos adultos converte em conhecimento
e bem-estar comunitário.
Afora dos sorrisos místicos contagiantes o que mais me
impressionou nesses dias de babá carnavalesca foi os brinquedos favoritos das
crianças. Ademais dos pulos acrobáticos na piscina, apoiados nos macarrones,
braceletes e bichos coloridos de plástico flutuantes, corriam pela área de
lazer revivendo jogos tradicionais como os pega-pega e esconde-esconde, etc.
Senti que as crianças estavam tão absortas nas brincadeiras que se esqueciam de
comer e beber. Eram os adultos que os advertiam para alimentar-se. Coisa que
faziam sem parar de brincar. Pulando. Se engasgando, tossindo ou cuspindo,
porém sempre sorrindo e fazendo mais gracinhas.
Quando as sombras do entardecer do verão quente caiam na área
do lazer caseiro pediam para sair na rua da frente da casa. Os maiores
improvisavam um jogo de futebol num belo campo asfaltado, cujas traves eram os
chinelinhos descoloridos.
Apreendi que o dia das crianças passava praticando jogos
escolhidos pelos próprios meninos. Os pais, condicionados ao mercado dos
brinquedos infantis tão ridiculamente publicados pelas empresas publicitárias,
despejavam generosamente mil e uns brinquedos cada qual mais chamativo,
berrante e beligerante. Sem jamais faltar, claro, os aparelhinhos eletrônicos e
cibernéticos contemporâneos. Surpreendi-me que as crianças optavam por brincar
a jogos tradicionais e improvisados. Até os bebes preferiam que falassem com
eles do jeito apropriado à sua linguagem gutural.
Já à noite, enquanto as tevês jorravam as novelas do mundo
imaginado pela mídia mandante, os adultos preferiam se juntar aos jogos das
crianças e aos chamegos dos nenês. Perto dum bebe estava uma professora famosa
na cidade observando as carícias que uma menina de quatro anos fazia com sua
irmãzinha. A professora querendo agradar a irmãzinha lhe disse: - Olha menina.
Você é a irmã mais velha e tem que cuidar direitinho de sua irmãzinha. A Irmã
maior imediatamente responde: - “eu não sou velha”. Os adultos que seguiam o
fato soltaram gargalhadas. A senhora professora, pedagoga tentava se explicar,
mas não adiantava. Este fato junto aos sorrisos e espontâneas brincadeiras
criativas ou tradicionais das crianças me confirmaram a descoberta da verdade
de que ninguém ensina nada a ninguém. As pessoas apreendem umas com as outras.
O dia que as famílias, escolas e universidades entendam essa verdade do
conhecimento natural que se funda nas pessoas a pedagogia mudará, as famílias
terão menos problemas e custos e os estados iniciaram a construção de uma nova
sociedade, onde sorrir e ser felizes seja algo como caminhar, falar e comer. Ações
básicas apreendidas na comunidade.
Penso que fui uma útil babá, pois pelo menos apreendi a
sorrir até dentro da alma e deixei a ignorância pela descoberta de que os
meninos são sábios..
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