quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

JUNTO AOS BEBÉS


O  Carnaval de 2013, para mim, resultou ser inesperadamente muito diferente dos jocosos carnavais que já passei na minha vida.

Sempre gostei de carnaval, por serem propositalmente dias de brincadeiras, cantos danças, orações, estudos, comes e bebes, farras e surpreendentes aventuras amorosas e prazerosamente ariscadas.

Constantemente tenho insistido em meus artigos, livros, cursos e debates de que a vida é uma permanente festa. Quando o mundo não é festividade é por circunstâncias dum meio intruso difícil de compreender, como a queda do recente meteorito nos Urales da Rúsia. Muita gente tentou justificar e vejo que o meio cada vez está mais embrulhado e embrutecido.

Passei o carnaval entre bebes e crianças e cuidando delas na casa grande da cidade bela dos lagos verdejantes do sertão.

Nunca tinha observado que o sorriso dos nenês é diferente do sorriso dos adultos.Os bebes tem um sorrir doce, vindo do interior, contagiante pela originalidade. É um sorrir que penetra na alma da gente. Notei que os nenês não falam; riem,  gesticulam, mexem, espicham, contemplam, dormem, caem, mamam e se aconchegam. Choram somente por necessidades básicas da sobrevivência. As crianças se agrupam. Usam sua original língua e gestos para se comunicar. Dialogam, repartem. Quando se cansam ficam quietos e dormem como anjinhos. Ver-los dormir convida a contemplação e adoração. O ambiente é de paz. Somente perturbada por adultos autoritários. Ai o bicho pega! Os meninos ensaiam uma revolta. As crianças berram e partem pra ignorância que somente uma conversa humana dos adultos converte em conhecimento e bem-estar comunitário.

Afora dos sorrisos místicos contagiantes o que mais me impressionou nesses dias de babá carnavalesca foi os brinquedos favoritos das crianças. Ademais dos pulos acrobáticos na piscina, apoiados nos macarrones, braceletes e bichos coloridos de plástico flutuantes, corriam pela área de lazer revivendo jogos tradicionais como os pega-pega e esconde-esconde, etc. Senti que as crianças estavam tão absortas nas brincadeiras que se esqueciam de comer e beber. Eram os adultos que os advertiam para alimentar-se. Coisa que faziam sem parar de brincar. Pulando. Se engasgando, tossindo ou cuspindo, porém sempre sorrindo e fazendo mais gracinhas.

Quando as sombras do entardecer do verão quente caiam na área do lazer caseiro pediam para sair na rua da frente da casa. Os maiores improvisavam um jogo de futebol num belo campo asfaltado, cujas traves eram os chinelinhos descoloridos.

Apreendi que o dia das crianças passava praticando jogos escolhidos pelos próprios meninos. Os pais, condicionados ao mercado dos brinquedos infantis tão ridiculamente publicados pelas empresas publicitárias, despejavam generosamente mil e uns brinquedos cada qual mais chamativo, berrante e beligerante. Sem jamais faltar, claro, os aparelhinhos eletrônicos e cibernéticos contemporâneos. Surpreendi-me que as crianças optavam por brincar a jogos tradicionais e improvisados. Até os bebes preferiam que falassem com eles do jeito apropriado à sua linguagem gutural.

Já à noite, enquanto as tevês jorravam as novelas do mundo imaginado pela mídia mandante, os adultos preferiam se juntar aos jogos das crianças e aos chamegos dos nenês. Perto dum bebe estava uma professora famosa na cidade observando as carícias que uma menina de quatro anos fazia com sua irmãzinha. A professora querendo agradar a irmãzinha lhe disse: - Olha menina. Você é a irmã mais velha e tem que cuidar direitinho de sua irmãzinha. A Irmã maior imediatamente responde: - “eu não sou velha”. Os adultos que seguiam o fato soltaram gargalhadas. A senhora professora, pedagoga tentava se explicar, mas não adiantava. Este fato junto aos sorrisos e espontâneas brincadeiras criativas ou tradicionais das crianças me confirmaram a descoberta da verdade de que ninguém ensina nada a ninguém. As pessoas apreendem umas com as outras. O dia que as famílias, escolas e universidades entendam essa verdade do conhecimento natural que se funda nas pessoas a pedagogia mudará, as famílias terão menos problemas e custos e os estados iniciaram a construção de uma nova sociedade, onde sorrir e ser felizes seja algo como caminhar, falar e comer. Ações básicas apreendidas na comunidade.
Penso que fui uma útil babá, pois pelo menos apreendi a sorrir até dentro da alma e deixei a ignorância pela descoberta de que os meninos são sábios..

 

 

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