terça-feira, 23 de outubro de 2012

VIVÊNCIAS AMOROSAS


Minha esposa Caíra ainda se encontra deitada. O ciciar da respiração se harmoniza aos compassados sons das teclas do computador e ao longínquo zumbido dos motores que se movimentam pelas avenidas e ruas da grande cidade em latente aquecimento. O corpo da amada, todavia em sonhos, se estende na cama. A palma da mão direita contorna a cabeça enfeitada de finos cabelos negros. A macia camisola, devagarzinho, avança pelas curvas lisas e pára a beira do vale rosáceo do corpo aberto. De soslaio vislumbro pictóricas mulatas.

 A sagrada pauta nupcial envereda a gente no jogo amoroso movido pelo impulso da nobre e fascinante natureza desbordante do ser mulher. O amor não tem idade, nem fórmulas arranjadas.

            - Tiço, oh Tiço, - balbucia Caíra.

            Adivinham-se instantes de melodias.

A voz repousada de Caíra ecoa nos meus ouvidos. Sinto o canto da lenda do boto que encanta matutos nas águas dos grandes rios e lagoas das florestas. Mas o mapa da rota do texto que escrevo me obriga a continuar a obra planejada. O suave batido das teclas se mistura ao coral da passarada matinal anunciando algo eminentemente prazeroso. Vital. O fulgor solar embriaga. A novidade de cada dia, a porfia, desafia...

            - Meu Tiço, pára - suplica a esposa. Vem cá, oh mestiço. Toca-me... Me toca....

É o canto do boto, cada vez mais afinado e acossado.

          Os regalados olhos contemplam a escultura quente da minha Vênus de Milo. Levanto-me lentamente. O tempo não mais é calculado. Assento no borde do ortobom, pertinho do corpo ornado com tintes pretinho e rosado somente mostrado para os amantes trêmulos, tesudos e livremente atrevidos. Devagar os dedos se deslizam pelos contornos do rosto erguido, desafiante que sinto meu. Ambos os olhos se espelham e a luz nuclear leva o casal num prado verde dum infinito céu azul ligado lá e cá. Um belo horizonte... Suavemente as palmas das mãos deslocam-se sobre a pele úmida da mulher que me agarra e amassa. Delicadamente vou penetrando facilitado pela virada instintiva de Caíra, cavalgando no alazão ondulante do corpo que já foi meu... Ela pega minhas mãos e as plasma sobre os peitos agora mais eretos e retumbantes. Os mamilos se enfiam entre os suados dedos. O busto da esposa inclina-se sobre meu rosto arrebatado. A boca aberta golfa os seios que balançam sobre a fervilhante cavidade. Observo os olhos fechados e os lábios dourados da amada. Contemplo o fascínio com que a mulher desabrocha o corpo humano, igual flor aberta ao trêmulo bico do beija-flor que sorve o néctar das lubrificadas pétalas energizadas. Sinto o paroxismo do banquete da vida. Mais uma vez ligamos carne, corpo, mente e espírito. Somos a pessoa completa. O tempo cessa. A eternidade palpita!

Nenhum comentário:

Postar um comentário