Minha esposa Caíra ainda se encontra
deitada. O ciciar da respiração se harmoniza aos compassados sons das teclas do
computador e ao longínquo zumbido dos motores que se movimentam pelas avenidas
e ruas da grande cidade em latente aquecimento. O corpo da amada, todavia em
sonhos, se estende na cama. A palma da mão direita contorna a cabeça enfeitada
de finos cabelos negros. A macia camisola, devagarzinho, avança pelas curvas
lisas e pára a beira do vale rosáceo do corpo aberto. De soslaio vislumbro
pictóricas mulatas.
A sagrada pauta nupcial envereda a gente no
jogo amoroso movido pelo impulso da nobre e fascinante natureza desbordante do
ser mulher. O amor não tem idade, nem fórmulas arranjadas.
-
Tiço, oh Tiço, - balbucia Caíra.
Adivinham-se
instantes de melodias.
A voz repousada de
Caíra ecoa nos meus ouvidos. Sinto o canto da lenda do boto que encanta matutos
nas águas dos grandes rios e lagoas das florestas. Mas o mapa da rota do texto
que escrevo me obriga a continuar a obra planejada. O suave batido das teclas
se mistura ao coral da passarada matinal anunciando algo eminentemente
prazeroso. Vital. O fulgor solar embriaga. A novidade de cada dia, a porfia,
desafia...
-
Meu Tiço, pára - suplica a esposa. Vem cá, oh mestiço. Toca-me... Me toca....
É o canto do boto, cada
vez mais afinado e acossado.
Os regalados olhos contemplam a
escultura quente da minha Vênus de Milo. Levanto-me lentamente. O tempo não
mais é calculado. Assento no borde do ortobom, pertinho do corpo ornado com
tintes pretinho e rosado somente mostrado para os amantes trêmulos, tesudos e
livremente atrevidos. Devagar os dedos se deslizam pelos contornos do rosto
erguido, desafiante que sinto meu. Ambos os olhos se espelham e a luz nuclear
leva o casal num prado verde dum infinito céu azul ligado lá e cá. Um belo
horizonte... Suavemente as palmas das mãos deslocam-se sobre a pele úmida da
mulher que me agarra e amassa. Delicadamente vou penetrando facilitado pela
virada instintiva de Caíra, cavalgando no alazão ondulante do corpo que já foi
meu... Ela pega minhas mãos e as plasma sobre os peitos agora mais eretos e
retumbantes. Os mamilos se enfiam entre os suados dedos. O busto da esposa
inclina-se sobre meu rosto arrebatado. A boca aberta golfa os seios que
balançam sobre a fervilhante cavidade. Observo os olhos fechados e os lábios
dourados da amada. Contemplo o fascínio com que a mulher desabrocha o corpo
humano, igual flor aberta ao trêmulo bico do beija-flor que sorve o néctar das
lubrificadas pétalas energizadas. Sinto o paroxismo do banquete da vida. Mais
uma vez ligamos carne, corpo, mente e espírito. Somos a pessoa completa. O
tempo cessa. A eternidade palpita!
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