sexta-feira, 22 de abril de 2011

EU E O LIVRO

 
O gozo
            Dia 23 de abril de 2011 se comemorou, no ocidente, o Dia do Livro que se relaciona com o aniversário da morte de Miguel de Cervantes e de William Shakespeare, expoentes da literatura, da poesia, e da arte de criar. Este dia em Europa se costuma presentear as pessoas com rosas. O dia 23 também se celebra a festa de são Jorge, padroeiro de Catalunha, Barcelona, Inglaterra e muito devotado no Brasil e, também o dia do meu onomástico. Fantásticas referências históricas, bem simbólicas para aqueles que usam a cabeça para pensar uma vez na vida.
            Ademais este ano o Dia do Livro se relacionou com o Sábado Santo, símbolo histórico do renascer para a vida. Celebrar a Páscoa de Ressurreição significa gozar a vida comunitariamente e para sempre. Escrever e ler livros são atos penetrantes no gozo do conhecimento da realidade chamada mundo, berço da vida humana criativa de bens opostos.
            Tinha menos de dez anos e fui com minha mãe a capital de minha terra. A mãe perguntou-me qual presente queria ganhar. Respondi convicto que queria livros. Entramos na grande livraria Durán. Fiquei extasiado ao contemplar tantos livros grandes, bonitos, coloridos, grossos. Moços subindo curiosas escadas leves para colocar e organizar livros de todo tamanho.. Durante muito tempo fiquei no gozo da contemplação idílica, do amor tranqüilo, suave. A imaginação infantil fruía o fantástico universo.  Escolhi três livros grandes. Um de filosofia sobre o sentido da vida.. .Outro a vida de El Cid Campeador e o terceiro o romance O Entardecer . Chegado a casa durante muito tempo folheei cada página dos três livros.Sentia aquele perfume novo e único dum livro impresso. Apalpei o verso, reverso e entorno de cada um, de modo suave e até dando uns leves toques de carinho, demonstração da felicidade sentida.
            Em casa não existia estante para livros. Eu queria uma estante. Ia iniciar minha livraria particular. Fui a casa do tio António, que era construtor e pedi que me desse vários tijolos limpos. Com oito tijolos de barro iniciava minha coleção de livros que jamais acabou até hoje. Meu lazer pessoal é ler, escrever, comprar livros e vinhos.

Além de muitos estantes abarrotados de livros, encontram-se  exemplares nos criados mudos que deixaram de serem mudos, pois os livros me falam todo dia antes de dormir e ao acordar.Carrego livros no carro, na lotação , no avião, nas férias. Leo, risco, copio frases e pensamentos que me seduzem. Leo uns três livros, de vez,  e de vários assuntos:  filosofia,história, sociologia, política, romances, contos, poesias, críticas, crônicas esportivas, etc.
Leitura
            Ler um livro significa penetrar na intimidade do autor que escreve. Expressa uma convivência constante com o autor e as personagens que descreve ou os objetos que analisa. Com a leitura se dialoga com as personagens de todo caráter que são apresentados de modo humano. Com as letras do livro pode-se rir, gritar, chorar, gozar, dormir, sonhar outros mundos insuspeitados. O livro adorna a realidade relativa dos objetos existentes no mundo e as coisas e acontecimentos. O livro te abre ao universo. O livro aumenta o conhecimento mediante os novos conhecimentos de tantos homens e mulheres que inventam instrumentos e sucessos que enobrecem a humanidade, feita de pessoas ávidas por saber. O livro é fonte e origem da sabedoria.O livro é o amigo que está a toda hora ao seu dispor e de modo natural, gratuito, generoso e diferente. Um livro é como o amor. Ninguém consegue amar somente uma vez. Disse-se que o amor é para sempre. Do mesmo modo ninguém consegue ler um livro uma só vez. Um livro, quando se gosta dele, se lê muitas vezes. Muitas vezes mesmo e como o amor nunca é igual ao ato de amor anterior. A nova leitura do livro nunca é igual às outras leituras. A cada leitura se descobrem temas, pensamentos idéias diferentes e penetrantes..
            O livro é adorno de uma sala de casa ou de várias salas de casa. Conheço casas que são adornadas por estantes enormes e lindos repletos de livros de todo tamanho e gosto. Uma livraria é como o universo. È caixa de surpresas. Jorge Luis Borges, prêmio Nobel de literatura afirma que uma biblioteca é o labirinto do cosmos. Quem entra nesse labirinto somente sai realizado, feliz, livre, leve.
            Desde os primórdios das comunidades humanas se encontra o livro. Na gruta do Rei-do-Mato, em Sete Lagoas encontram-se pinturas e símbolos nas rochas. São as primeiras manifestações do livro. 4000 anos a.c. se acham livros em forma de tábuas, papiros, códices e , desde o século XV a imprensa modificou a forma do livro atual. A última forma do livro é a eletrônica, a digital.. O livro passa por muitas formas, mas sempre permanece. O livro se torna a grande realidade da humanidade. O livro é amado, muito amado, por isso é criado. O livro é odiado por aqueles seres ditos humanos que têm medo a verdade, a filosofia, a poesia, aos contos que colocam idéias novas. Só os ditadores queimam livros e fecham bibliotecas..
            Quando no golpe militar apoiado pela igreja oficial o exército invadiu o seminário São Pio X , as 2, 30 horas para me prender, carregou os livros que “eles consideravam subversivos”. Entre eles a encíclica Mater et Magister de João XXIII. Um prefeito aloprado da cidade jogou na lagoa Paulino toda a edição do jornal Gente Nova que editava cada semana e donde se diziam as verdades sobre todos os acontecimentos da região , de uma maneira objetiva, real..Esta realidade acontece ainda hoje, porém usando a violência simbólica, forma latente de eliminar e cooptar. . O livro e os jornais possuem tanta potência que os grandes grupos poderosos da cidade os usam para massificar e colocar idéias arranjadas nas mentes da população despreparada. E esses mesmos grupos usam textos apropriados para optarem os professores a repetirem as ideologias do poder hegemônico a fim de que os ricos se possam perpetuar no poder.
            O livro que está feito de palavras que são dardos de verdades é uma arma poderosa para mudar o modo de entender a sociedade e os grupos que a mantêm classista e desigual.
            O livro, a palavra escrita é o instrumento mais poderoso e eficaz jamais inventado pelos homens.
            O livro é rosa vermelha, símbolo da delicadeza e da difusão do perfume que se espalha por todas as partes. Eu sem livros não seria eu. Eu sou o que leo e escrevo.  

  

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