quarta-feira, 17 de novembro de 2010


M E T E O R O   C U L TU RA L
                                                                                                                             Jorge Solivellas Perelló
                                                                                                              Escritor e Professor-www.cemper.com.br
 O Trovão
            Impressionante, surpreendente e, talvez, esperançosa a movimentação cultural que se está promovendo na região e cidade dos lagos neste final de primavera 2010.
Aproxima-se, de modo esplendoroso e estelar, o meteoro da cultura. Provo minha afirmação. Quem tiver a mão a tecnologia cibernética basta abrir o Site www.literata.net e se convencerá, por si próprio, da passagem desse meteoro cultural.
Será útil para este comentário recordar que meteoro significa uma aparição brilhante e efêmera de um fenômeno na atmosfera terrestre
Poucos dias atrás um artista plástico da cidade, conhecido nacional e internacional, estava perplexo do descaso cultural crônico duma cidade e duma região que a natureza engalanou  de luz, de cores, de lagos reluzentes, de serras contemplativas do beijo secular do mar de terra com o oceano azul do firmamento do sertão, de florestas nativas, sulcadas de riachos que alegremente avançam para os muitos rios que ligam os mares dos oceanos do planeta.
            A região e as cidades articulam um belo marco onde pássaros mil cantam sem descanso, e as capivaras e jacarés senhoreiam pelos lagos e beira-rios, à vontade, olhando a gente com caras de famosos investigadores biológicos. Os jovens moradores bípedes correm, cantam, ouvem músicas metálicas ( sinais dos tempos), sentados nas generosas sombras das árvores tropicais que ainda sobram da devastação dos seres tidos como humanos. Alguns casais de gente sensível, deitados na grama das veredas se abraçam e afogam no ato mais divino da natureza e que: o amor real.
            O famoso artista plástico será um dos poucos habitantes dessa região que, conectado a beleza natural regional, escapou da apropriação exploratória dos grupos dominantes  da modernidade que condicionam os bondosos e inteligentes habitantes da região.
Surpresa
            Por que essa surpresa ante essa passagem inesperada do meteoro cultural ?
            Os acontecimentos culturais programados que se sucederão nesse final de primavera, sentindo já o fogo do verão, podem converter-se no fenômeno atmosférico da aparição dum meteoro. Tomara que estivesse errado! Mas o maior dos artistas da região o gênio João Guimarães Rosa avisa:
Eu sou é eu mesmo. Diverjo de todo o mundo, desconfio de muita coisa .Uma coisa é pôr idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias...”
            A cultura é como a religião não se impõe. A cultura se iguala a educação que tampouco aceita imposições. A surpresa do acontecimento poderá ser, talvez, melhor compreendida narrando um fato cultural que aconteceu, nada menos, que na cidade natal de Guimarães Rosa, Cordisburgo. A cidade, o Estado, a Nação e o mundo celebravam o Centenário do Nascimento de Rosa.
            A Comissão Oficial do III Encontro Regional das Artes Roseanas de Sete Lagoas , juntamente com 45 professores de letras do sistema municipal do ensino fundamental, no dia 27 de junho de 2008, dia do nascimento de Rosa, depois de assistirem, de manhã, na Av. Guimarães  Rosa a primeira inauguração da placa homenagem a Rosa, viajaram num ônibus fretado pela Prefeitura Municipal para Cordisburgo com o objetivo de participar ativamente das solenidades do Centenário. Entre as solenes atividades do dia se destacava o concerto da Orquestra Filarmônica do Estado de Minas Gerais. O concerto foi na espaçosa igreja matriz de Cordisburgo que estava lotada de moradores da cidade. Era uma confraternização de parentes, vizinhos, conhecidos e visitantes . Pelas 14,00 horas começou o concerto. Caiu um silêncio sagrado. As músicas eram de clássicos compositores europeus. Notas afinadíssimas, melodias lindas, interpretação perfeita. Passados poucos minutos, mesmo no templo, a platéia começou a ficar inquieta, logo iniciou umas conversas entre vizinhos, depois o desfile de retorno a vida normal de moradores da cidade.  No final ficavam os organizadores da atividade. Por que a desbandada?
            A população está condicionada a músicas populares e locais. A programação foi um desconhecimento do povo e até, como se comentava entre alguns eruditos, um desprezo ao maior autor da arte popular.
            Sem dúvida, que a cultura, em todas as manifestações  representa o desenvolvimento humano e social dum país. A beleza e o significado das artes jamais é patrimônio dos mais poderosos e ricos. Todo morador da cidade, naturalmente, está dotado de sensibilidade para o prazer das artes. Mas o morador da região, desde o dia que nasce, deve ser estimulado à descoberta pessoal da beleza presente nos mudanças energéticas do entorno. Esta sensibilidade continua na escola infantil, na fundamental, no ensino médio e nas faculdades. Infelizmente é uma exceção encontrar esse processo formativo.  
            Espero que esse admirável empreendimento apoiado por empresas regionais e transnacionais e que proporcionam a presença de grandes escritores, atores, pintores, músicos e dançarinos de outros estados do Brasil, seja um início de um processo lento, porém firme, do retorno a cultura que liberta a região e o país.
              

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