Em 1956 até 1960, junto com jovens idealistas de toda Europa
fui a estudar ao Colégio Hispano Americano, no Campus universitário Complutense
de Madri.
Estes jovens
idealistas havíamos respondido ao apelo angustioso do Papa Pio XII que
exhortava aos jovens de Europa para irem trabalhar a América Latina para
salvá-la das ideias do comunismo que propagava o ateismo, a abolição da
propriedade privada. a igualdade entre as pessoas e a entrega do fruto do
trabalho ao Estado. Esses eram os objetivos que agruparam muitos jovens,
sedentos por fazer o bem a humanidade que corria o risco de perder a fé e a
liberdade.
Espanha vivia a dura ditadura do Franco, apoiado pela
ultra direita e a Igreja católica conservadora. A criação do Colégio Sacerdotal
Hispano Americano no Campus da Complutense era obra conjunta do Estado
Totalitário e a igreja católica europeia e americana, cuja sigla era OCSHA.
A formação dessa juventude idealista era uma educação conservadora
e controladora. Porém a contradição apareceu. O Colégio de Madri era dirigido por professores experientes e
cientistas que professavam uma educação libertadora em todas as manifestações e
atitudes humanas. O colégio era como uma comunidade de amigos. Cada aluno tinha
seu quarto e podia organizar sua vida e estudos ao seu belo prazer. As aulas
eram um debate sobre temas de filosofia, religião, sociologia, linguas, música,
política e muito esporte, praticado nos campos esportivos da imensa
universidade nacional e internacional e muita literatura e teatro. Os alunos
podíamos sair a cidade bem a vontade, dentro de horários normais. Bastava
avisar ao supervisor que também era um colega escolhido. A grande surpresa era
que as aulas de teologia não tratavam de dogmas, mas do estudo detalhado e
cronológico dos libros sagrados de Bíblia. Se podia estudar em grupos. Nas
provas escolares se podia usar os livros de texto. Nessa prática apreendi que
usar os livros para responder as questões das provas escolares era mais difícil
que responder de memória os textos estudados anteriormente. Com os textos na
mão quem não tinha estudado não conseguia encontrar as respostas certas na hora
da prova. O professor saia da aula e só voltava, ao fim da aula para recolher
os trabalhos de examem. Os alunos jamais ficavam tão atarefados!
Os professores criavam grupos de alunos para os domingos
optarem para irem a trabalhar nas favelas de Madri ou ficar no Colégio. Nesses
grupos também entravam alunos e alunas de outras faculdades da universidade e
de bairros. Esses grupos engajados com a realidade participavam dos protestos
constantes contra normas, comportamentos, perseguições e assassinatos do regime
franquista. Geralmente quando havia manifestações participávamos e corríamos
para fugir dos cascos do cavalos dos brutos soldados do regime. Colegas eram
presos e mortos.
Estes grupos seguiam os movimentos revolucionários do
planeta, dividido entre capitalistas e comunistas. Atualmente domina o grupo
capitalista fundamentalista contra outros grupos fundamentalistas religiosos.
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