quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

DOMÍNIO DAS IDEIAS

Em 1956 até 1960, junto com jovens idealistas de toda Europa fui a estudar ao Colégio Hispano Americano, no Campus universitário Complutense de Madri.
 Estes jovens idealistas havíamos respondido ao apelo angustioso do Papa Pio XII que exhortava aos jovens de Europa para irem trabalhar a América Latina para salvá-la das ideias do comunismo que propagava o ateismo, a abolição da propriedade privada. a igualdade entre as pessoas e a entrega do fruto do trabalho ao Estado. Esses eram os objetivos que agruparam muitos jovens, sedentos por fazer o bem a humanidade que corria o risco de perder a fé e a liberdade.
Espanha vivia a dura ditadura do Franco, apoiado pela ultra direita e a Igreja católica conservadora. A criação do Colégio Sacerdotal Hispano Americano no Campus da Complutense era obra conjunta do Estado Totalitário e a igreja católica europeia e americana, cuja sigla era OCSHA.
A formação dessa juventude idealista era uma educação conservadora e controladora. Porém a contradição apareceu. O  Colégio de Madri  era dirigido por professores experientes e cientistas que professavam uma educação libertadora em todas as manifestações e atitudes humanas. O colégio era como uma comunidade de amigos. Cada aluno tinha seu quarto e podia organizar sua vida e estudos ao seu belo prazer. As aulas eram um debate sobre temas de filosofia, religião, sociologia, linguas, música, política e muito esporte, praticado nos campos esportivos da imensa universidade nacional e internacional e muita literatura e teatro. Os alunos podíamos sair a cidade bem a vontade, dentro de horários normais. Bastava avisar ao supervisor que também era um colega escolhido. A grande surpresa era que as aulas de teologia não tratavam de dogmas, mas do estudo detalhado e cronológico dos libros sagrados de Bíblia. Se podia estudar em grupos. Nas provas escolares se podia usar os livros de texto. Nessa prática apreendi que usar os livros para responder as questões das provas escolares era mais difícil que responder de memória os textos estudados anteriormente. Com os textos na mão quem não tinha estudado não conseguia encontrar as respostas certas na hora da prova. O professor saia da aula e só voltava, ao fim da aula para recolher os trabalhos de examem. Os alunos jamais ficavam tão atarefados!
Os professores criavam grupos de alunos para os domingos optarem para irem a trabalhar nas favelas de Madri ou ficar no Colégio. Nesses grupos também entravam alunos e alunas de outras faculdades da universidade e de bairros. Esses grupos engajados com a realidade participavam dos protestos constantes contra normas, comportamentos, perseguições e assassinatos do regime franquista. Geralmente quando havia manifestações participávamos e corríamos para fugir dos cascos do cavalos dos brutos soldados do regime. Colegas eram presos e mortos.

Estes grupos seguiam os movimentos revolucionários do planeta, dividido entre capitalistas e comunistas. Atualmente domina o grupo capitalista fundamentalista contra outros grupos fundamentalistas religiosos.

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